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Mora nos Clássicos

Retrospectiva 2018: o que aconteceu de bom (e de ruim) no mundo dos antigos

Rodrigo Mora

07/01/2019 09h38

(SÃO PAULO) – Relembrando o que aconteceu em 2018, vejo que teve muita coisa legal. E apenas uma ruim.

Janeiro – Você teria um carro que pertencera a Adolf Hitler? A resposta de quem participou do leilão realizado pela Worldwide Auctioneers foi não. Claro que os US$ 10 milhões pedidos pelo Mercedes-Benz 770K Grosser Offener Tourenwagen foram um eficaz repelente, mas também deve ter contribuído para o encalhe a história um tanto maluca do carro.

A Land Rover abriu as comemorações pelos seus 70 anos encarando a restauração de um dos três Série 1 exibidos no Salão de Amsterdam de 1948, que marcou tanto o nascimento do carro quanto da marca. "Este Land Rover é uma peça insubstituível da história automotiva mundial e é tão importante quanto o 'Huey', o primeiro Land Rover de pré-produção", definiu Tim Hannig, diretor da Jaguar Land Rover Classic, sobre o jipe que fora achado, corroído pelo tempo, num jardim próximo a Solihull, ironicamente o local de sua produção, décadas atrás.

(Imagem: divulgação)

No ano do seu cinquentenário, Opala é o primeiro a receber placa preta. Um Diplomata SE, ano e modelo 1988 – um dos 2.293 Diplomatas a gasolina fabricados naquele ano, de um total de 22.912 Opalas – recebeu no dia 9 seu Certificado de Originalidade.

Esse Diplomata 1988 é o primeiro carro a receber placa preta em 2018

Fevereiro – Depois de arrematar o acervo de 543 carros do colecionador James Hull – então considerado o maior da Inglaterra –, a Jaguar dispensou o que não lhe interessava em um leilão da Bicester. O título do evento, Affordable Classics at Bicester (clássicos acessíveis em Bicester), fazia jus aos preços: mais caro da lista, um dos 26 Mercedes-Benz CL63 AMG (2002) produzidos, com apenas 52 mil quilômetros, saiu por £ 20.600; o mais barato foi um trailer Elddis Wisp 350/2 Caravan, por £110. A lista completa está aqui.

Um Lamborghini 400 GT 2+2 1967, um Lamborghini Diablo 1991 e uma Ferrari Dino 246 GT Spider passam a valer mais quando pertenceram a rock stars – no caso, Paul McCartney, Rod Stewart e Nick Mason (ex-baterista do Pink Floyd), respectivamente. Os três esportivos foram a leilão e, juntos, somaram £ 965 mil em valores de lance mínimo. Nenhum deles fora arrematado, contudo.

Quando ninguém mais esperava ver um Defender zero-quilômetro, a Land Rover apresentou a versão Works do jipão. Valeu a pena ressuscitá-lo, após dois anos de aposentadoria: as 150 unidades produzidas da série especial foram vendidas em menos de um mês.

(Imagem: divulgação)

Março – O Volvo 1800 S que pertencera a Roger Moore, uma das principais caras de James Bond nos filmes do agente 007, e que o ator usou na série The Saint, exibida nos EUA e na Inglaterra entre 1962 e 1969, fez sua estreia num evento de carros antigos durante a 30a edição da Techno-Classica, em Essen, na Alemanha.

Esse Volvo 1800 S pertenceu a Roger Moore (Imagem: Divulgação)

No dia 23, a Volkswagen fez 65 anos no Brasil. O dia marcou o início da montagem dos primeiros Fuscas, cuja maternidade ainda não era a planta da Anchieta, mas sim um galpão na Rua do Manifesto, no bairro paulistano do Ipiranga. O carro vinha desmontado e encaixotado da Alemanha e aqui 12 funcionários juntavam suas peças.

Abril – O Museu da Imprensa Automotiva abriu a exposição a respeito dos 50 anos do Ford Corcel. Além de um raro Del Rey Scala 1983, a mostra exibiu um documentário sobre a criação do modelo, além de revistas, fotos e materiais de imprensa da época. Entre os achados, fotos de uma clínica realizada aparentemente entre 1976 e 1977. A Ford estaria preparando a renovação da gama e algumas possibilidade estavam na mira, como um Del Rey tentando parecer um Galaxie e um Corcel com cara do que veio a ser, de fato, o Del Rey.

Esse protótipo de Del Rey nunca foi adiante, felizmente (Imagem: Divulgação)

Maio – Último carro pilotado por Ayrton Senna em Mônaco, o McLaren-Cosworth Ford MP4/8A foi arrematado por € 4,2 milhões em leilão realizado pela Bonhams, durante o Grand Prix de automóveis clássicos Monaco Historique. Na mesma ocasião, também foi vendido o primeiro Fórmula 1 guiado pelo tricampeão no principado. Arrematado por € 1,6 milhão, o Toleman-Hart TG184 é o protagonista daquela corrida de 3 de junho de 1984, na qual o então novato Senna largou em 13o o e chegou em 2o, num desfecho um tanto polêmico: ao encostar no líder Alain Prost, Senna viu a corrida ser abruptamente (e, para muitos, injustamente) interrompida pela direção de prova.

(Imagem: Divulgação)

Emerson Fittipaldi foi o grande homenageado do Amelia Island Concours d'Elegance do ano passado, e de quebra reencontrou o Renault R8 Gordini da sua primeira vitória, em 7 de novembro de 1965, no Rio de Janeiro.

Junho – Uma Ferrari 250 GTO 1963 se tornou o carro mais caro do mundo ao ser vendida por US$ 70 milhões. O recorde anterior era de outra das 39 unidades feitas da 250 GTO, comercializada por US$ 52 milhões, em 2013.

Essa 250 GTO trocou de mãos por US$ 70 milhões (Imagem: Divulgação)

A Porsche completou 70 anos no dia 8, e exibiu no seu museu o primeiro carro construído com sua marca, um 356 1948. Um dos destaques da comemoração foi a viagem feita por Toshiyuki Suzuki, que foi do Japão a Stuttgart com um modelo semelhante.

Na Holanda, a coleção de mais de 300 carros do Den Hartogh Museum, considerado o maior acervo privado de modelos da Ford no mundo, foi vendida por € 6.157.353.

O Benz Patent-Motorwagen (primeiro automóvel da História, patenteado por Karl Benz em 29 de janeiro de 1886) ganhou algumas réplicas em 1980 e novamente em 2001. Uma delas o Mercedes-Benz Classic Center, braço da fabricante alemã responsável pelos clássicos, pôs à venda – mas sem divulgar o preço.

Benz Patent-Motorwagen Replika (Imagem: Divulgação)

Julho – Para comemorar os 50 anos da Dino, a Ferrari reuniu 150 proprietários do modelo, com suas diversas versões do esportivo, em Maranello (Itália), sede da marca.

Especialista em tecnologia, a alemã Siemens quis fazer graça com um Mustang autônomo no Goodwood Festival of Speed, na Inglaterra, e se deu mal: lento e desgovernado, o carro preciso ter sua direção assumida por um motorista para não dar ainda mais vexame e causar um acidente.

Uma das principais histórias de 2018 foi o reencontro com um dos Mustangs usados em Bullitt, filme de 1968 estrelado por Steve McQueen.

Agosto – O encontro da Fazenda da Grama surgiu com a promessa de ser um evento capaz de reunir carros que raramente saem da garagem. Uma nova edição está prometida para 2019.

O Volvo 164, criado para ser o maior, mais refinado e potente Volvo de sua época completou 50 anos.

A Porsche revelou o Project Gold, um 911 Turbo S da geração 993 zero-quilômetro. O nome corresponde à cor da carroceria e a detalhes do interior – além de ser uma metáfora à criação de um carro cada vez mais cobiçado. Em outubro, o esportivo foi arrematado num leilão beneficente por € 2.743.500.

A Jaguar Classic eletrificou um E-Type e avisou: quem quiser converter o seu, basta trazer aqui. Em novembro, a Aston Martin faria algo semelhante com um DB6.

Arrematada por US$ 48.405.000, uma Ferrari GTO 1962 (pois é, de novo ela) se tornou o carro mais caro já leiloado.

(Imagem: Patrick Ernzen/RM Sotheby's)

"Esse é um dos cinco exemplares construídos desse modelo e há pouco foi totalmente restaurado. É uma peça de arquitetura automotiva montada em um chassi de corrida cuja tecnologia foi o topo da linha de carros pré-guerra", explicou David Sydorick, proprietário do Alfa Romeo 8C 2900B Touring Berlinetta 1937, após o modelo levar o prêmio de "Best Of Show" do Pebble Beach Concours d'Elegance.

Setembro – A McLaren lançou um programa de certificação de autenticidade para os F1, abrindo-o com GTR Longtail. Segundo a marca, o carimbo "foi desenvolvido para garantir a autenticidade tanto das versões de rua quanto das de pista, oferecendo paz de espírito para os atuais e futuros proprietários do esportivo".

Após um adiamento por conta da greve dos caminhoneiros, o encontro de Araxá (que nesta 23a edição levou o nome de Brazil Classics Renault Show) foi realizado no feriado da Independência. Além das atividades corriqueiras, como a exposição e o leilão, um Packard Eight Roadster 1931 foi eleito o "Best of Show" do evento. O mais legal, particularmente, foi ter chegado a Araxá guiando o Renault R8 Gordini que fora de Emerson Fittipaldi.

No mesmo evento, foi anunciada a transformação de parte da coleção de Og Pozzoli num museu, em Campos do Jordão (SP), prometido para o próximo ano.

(Imagem: Divulgação)

Outubro – Onze exemplares do Jaguar XJ foram, rodando, de Castle Bromwich (Inglaterra) a Paris, onde o sedã estreara, 50 anos atrás. Revezaram-se ao volante 26 jornalistas, além de Ian Callum, chefe de design da marca, que experimentaram nos 839 quilômetros de viagem modelos como Series I 1968, Series II 1973, Series II Coupé 1973, Series III 1979, XJ40 1986, X300 1994, X308 1997, X350 2003, X351 2009, XJR575 2017 e XJ50 2018.

Uma Ferrari 340/375 MM 1953 foi eleita "Best of Show" da Autoclásica 2018, o principal evento de carros antigos da América do Sul, que acontece de dois em dois anos. Equipada com um motor 4.5 V12 e com carroceria Pininfarina, é uma das únicas três desse modelo fabricadas e tem no currículo um quinto lugar nas 24 Horas de Le Mans e uma vitória nas 24 Horas de Spa-Francorchamps.

Novembro – Quem visitou o Salão do Automóvel de São Paulo não pôde reclamar da ausência de clássicos. Teve carreata da Volkswagen com direito a Gol GTi exposto (ainda que apenas por um dia), estandes com carros antigos e a comemoração pelos 50 anos do Opala.

Infelizmente, a retrospectiva relembra também o falecimento de Roberto Nasser, um dos pilares fundamentais do antigomobilismo no Brasil, primeiro presidente da Federação Brasileira de Veículos Antigos (por dois mandatos, de 1987 a 1991), curador do Museu do Automóvel de Brasília e idealizador da placa preta. Morreu em sua casa, aos 72 anos, vítima de infarto.

A cidade de São Paulo ganhou uma oficina especializada em Porsches novos e antigos. Batizada em homenagem à cidade da Alemanha onde se constroem os carros de corrida da marca, a Flacht tem 1.000 m² e o restaurante 911 no segundo andar.

Dezembro – Encerrando as comemorações pelo septuagésimo aniversário, a Land Rover organizou um encontro de modelos da marca, no Clube Hípico Santo Amaro.

Assim como a conterrânea Jaguar, a Aston Martin também eletrificou um dos seus clássicos – no caso, um DB6 Volante 1970. A ideia da empresa é "mitigar qualquer futura legislação que restrinja o uso de carros clássicos".

Comovida com a história de vida de Kathleen Brooks – que por três vezes derrotou um câncer de mama –, a Volkswagen decidiu restaurar seu Fusca, comprado zero em 1966 e que, ao longo de 52 anos, percorreu 560.000 quilômetros.

No último dia 19, completou-se cinco anos do fim da produção da Kombi.

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.