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Mora nos Clássicos

Projeto social a Fiat de US$ 1 mi: como será o museu que estreia em 2020

Rodrigo Mora

06/10/2018 07h00

(SÃO PAULO) – Um dos principais alicerces do antigomobilismo nacional, Og Pozzoli morreu em novembro do ano passado, aos 87 anos, sem ver sua coleção de aproximadamente 170 veículos se transformar em museu. Parte do seu acervo, enfim, será exibido a partir de 2020, em Campos do Jordão, interior de São Paulo.

(Imagem: divulgação)

"A Fundação Lia Maria Aguiar conseguiu realizar o sonho do meu pai, de criar um museu aberto ao público", disse João Carlos Pozzoli, filho de Og. Lia Maria Aguiar, 80, é herdeira de Amador Aguiar, falecido fundador do Bradesco.

A entidade foi criada pela empresária em 2008 "sem fins lucrativos" e trabalhando "pelo desenvolvimento de pilares fundamentais para um mundo melhor: educação, cultura, meio ambiente e inclusão social". Ainda de acordo com João Carlos, houve proposta de outras entidades nacionais e também internacionais, mas o projeto social foi o fiel da balança.

O blog tirou algumas dúvidas com Luiz Goshima, representante da Fundação Lia Maria Aguiar:

Quando começam as obras e como será a estrutura do prédio?

A aprovação do projeto já foi obtida e as obras deverão começar neste semestre. A proposta foi desenvolvida com o objetivo de ser uma construção moderna e com potencial para receber público local e turistas. O ambiente interno receberá iluminação especial e serão criados núcleos específicos para comportarem o acervo, sendo um deles em tributo ao colecionador Og Pozzoli.

Em qual mês ou semestre de 2020 o museu estreará?

Não conseguimos precisar a data exata da inauguração, pois a obra pode ter imprevistos durante sua construção, dada a condição climática de Campos do Jordão. Há épocas em que o ritmo das obras é reduzido por conta do período de chuvas. A ideia é que seja inaugurado antes do último trimestre.

Todos os 170 carros de Og foram para Fundação?

Ao longo dos anos, Og foi vendendo alguns dos veículos de seu acervo. Ao todo, teremos à disposição 102 carros que serão expostos em mostras rotativas. Aqueles que dependem de um trabalho de restauração serão restaurados pelo próprio Núcleo Profissionalizante da Fundação Lia Maria Aguiar, como experiência do conhecimento obtido nas aulas, sempre sob a supervisão dos mestres professores.

Depois de formados, os aprendizes serão os responsáveis por cuidar dos carros?

Estamos estudando algumas parcerias com núcleos já existentes de ensino profissionalizante relacionados à mecânica básica, lanternagem, pintura, etc. A ideia é que a primeira turma comece se especializando nesses cursos e, após a conclusão, os alunos sejam "lapidados" por nossos mestres, que direcionarão o ofício para a arte da restauração de automóveis antigos. Esses jovens possivelmente receberão um auxílio para cursarem as aulas. O público-alvo será composto de jovens de baixa renda e a seleção seguirá os critérios já estabelecidos pela Fundação no que tange a questão de renda, aptidão, etc.

Como e quando os aprendizes podem se inscrever?

As inscrições serão realizadas através do site da Fundação. Estamos validando em conselho, juntamente com o departamento de projetos da instituição, o melhor período para abertura das vagas, mas já afirmamos que não será neste ano.

Sobram museus desativados no Brasil. O que garante a manutenção deste?

A Fundação Lia Maria Aguiar (FLMA) é uma organização sem fins lucrativos que não depende de verbas públicas para sua subsistência. Possuímos uma dotação específica para projetos proveniente de sua fundadora, que provém rendimentos para manutenção de cada um deles. O museu será aberto à visitação através da venda de ingressos. Outras ideias para ajudar no custeio serão inseridas no projeto, tal qual a comercialização de souvenirs, passeios, etc. Essa renda não custeará o projeto, mas ajudará a amortizar as despesas. O intuito é meramente social e, como consequência, trará enorme apelo turístico ao município de Campos do Jordão.

E qual será seu nome oficial do museu?

Por enquanto, o nome está guardado a sete chaves e ainda não podemos divulgá-lo.

(Imagem: divulgação)

Natural do Rio de Janeiro, Og foi criado em Natal e se mudou para São Paulo em 1956, aos 26 anos. O trajeto entre as duas capitais foi realizado ao volante de um Opel P4 1937, numa viagem de 17 dias. Sem freio e com um mecânico que deveria ajuda-lo, mas bebia de noite e dormia de dia.

Em 1958, um Lincoln Continental 1948 inaugurou a coleção, que até a última contagem reunia 170 veículos. Seu acervo é considerado um dos 10 melhores do mundo graças a raridades como as duas Fiat Jardineira , uma de 1912 e outra de 1914. Esta última, única no mundo, despertou a cobiça de Gianni Agnelli (1921- 2013) quando, então presidente da Fiat, visitava o Brasil para a instalação da fabricante italiana por aqui. A fortuna oferecida pela Jardineira não convenceu Og, cujo amor pelos carros o impedia de comercializá-los.

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.