Última Kombi, “mini Gol” e jipe militar dominam acervo secreto da VW em SBC
Rodrigo Mora
28/11/2019 12h00
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
(SÃO BERNARDO DO CAMPO, SP) – Quase saindo do seu departamento, um funcionário da Volkswagen avisa ao colega que está nos levando até a garagem. Nem adianta tentar explicar onde está nosso destino, tal é a imensidão da fábrica da Anchieta, na industrial São Bernardo do Campo, com seus tijolinhos marrons igualando quase todos os prédios ali.
Fato é que dois minutos depois estávamos na Ala 5, adentrando um corredor escuro, com todo tipo de tubulações, fiações e estruturas aparentes e sem ninguém por perto. Logo no começo, à esquerda, abriu-se um oásis: a tal "garagem" na verdade é um acervo de relíquias, protótipos e exemplares históricos.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Um Voyage GL 1995, com interior em tom de areia e 267 quilômetros no odômetro, recebe os visitantes ao lado de uma Parati GLS 1994, prata, cuja virgindade dos bancos Recaro combina com os 785 quilômetros registrador no painel que de digital só tem o relógio.
Há uma Saveiro mais nova na sequência, mas ela perde a preferência dos olhos assim que avistamos uma impecável Kombi 1961, adquirida de um colecionador e restaurada pela própria empresa.
A Standard 2013 estaria ofuscada ao lado da "corujinha", não fosse quem é. Branca como as milhares que labutam a serviço de lavanderias e padarias, é ninguém menos do que a última produzida no mundo. Se a história sobre as Last Edition não serem de fato as derradeiras tinha contornos de boatos, agora está comprovado que as da edição especial não foram as que apagaram as luzes da linha de produção mais antiga da Anchieta.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Falando nas Last Edition, das 1200 produzidas, a primeira e a última estão com a Volkswagen da Alemanha, enquanto filial brasileira guardou a de número 56.
Tanto o 1600 vermelhinho – um dos primeiros a compor o acervo – quanto o 1600 TL Branco Lótus também vieram de fora. Os demais foram pinçados da produção e guardados.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Assim como o último Fusca produzido em 1986, quando o modelo saiu de linha pela primeira vez; e o conversível de 1997, feito especialmente para celebrar a segunda "morte" do Fusca, em 1996, após sua fabricação ter sido retomada em 1993.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Outros dois exemplares que merecem minutos de contemplação são um Passat GTS Pointer 1988 – que a empresa não tem certeza se é de fato o último, mas garante que é um dos três últimos – e um Santana EX, que há pouco tempo tivemos o privilégio de guiar.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
A fase da Autolatina pode não ser uma das mais festejadas, mas é reconhecida ali por um exemplar de 1992 do Apollo, talvez o modelo mais inexpressivo da história da Volkswagen, e por um Pointer GTi 1995, este na cor Verde Taiti e dono de algum charme.
BY e VEMP
Mas o visitante baba, mesmo, em dois carros que têm aquele status de lenda urbana. Um é o projeto BY, nascido no começo dos anos 1980 como uma alternativa menor e mais barata ao Gol. Tanto que sua base é a mesma até a coluna central.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Dali para trás o BY era diferente, adotando recursos distintos, como o banco traseiro corrediço adotado para aumentar a capacidade do diminuto porta-malas. A suspensão traseira tinha pontos de ancoragem diferentes dos do Gol, a fim de não invadir o compartimento traseiro. No mais, não havia as habituais calhas de teto, e o para-brisa era colado na carroceria, algo padrão hoje, mas não naquela época.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
O motor era o mesmo AP 1.600, o que resultou num desenho um tanto desproporcional. Esse estilo incomum, somado aos elevados custos de produção e a iminência da Autolatina culminaram no cancelamento do projeto, em 1987. Segundo a VW, este exemplar é o único BY remanescente.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
A história do VEMP não é menos curiosa. No início dos anos 1970, o Exército Brasileiro demandou às fabricantes um veículo com tração 4×4 e capaz de carregar até 500 kg. Eis que a Volkswagen apresentou o Veículo Militar Protótipo, construído sobre a base do Fusca e com motor 1.6 refrigerado a ar. A tração traseira contava com caixas de redução nas rodas, enquanto a dianteira era acionada sob demanda por uma pequena alavanca ao lado da do câmbio.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
O Exército declinou o projeto, e uma das duas unidades construídas do VEMP virou carro de serviço interno, puxando carretinhas de peças. O outro exemplar, acredita-se, fora destruída. Anos depois, já descaracterizado, o VEMP que sobreviveu – e que praticamente ninguém na VW sabia do que se tratava – foi recuperado e voltou às formas originais – exceto pelos bancos dianteiros emprestados do Fox e motor mais novo – ainda um 1.6 a ar.
(Imagem: Marcos Camargo/UOL)
Hoje é uma das relíquias do acervo. Que tem atualmente 98 veículos e que começou em 1981, com uma Variant II.
Sobre o autor
Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.
Sobre o blog
O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.