Topo

I-Pace pode ter sido maior ruptura da Jaguar, mas XJ220 rompeu tradições

Rodrigo Mora

20/05/2019 12h01

(SÃO PAULO) – Quando ainda se chamava SS Cars, a Jaguar produziu o SS 100, entre 1936 e 1940. Dotado de um seis-cilindros de 125 cavalos, era um dos únicos do seu tempo a rodar confortavelmente a 120 km/h. Apenas 314 foram feitos, e hoje esse roadster é cobiçado por colecionadores internacionais, dispostos a pagar mais de US$ 500 mil por um dos remanescentes.

Jaguar SS 100 (Imagem: divulgação)

Outros conversíveis da marca que encantaram o mundo foram os da série XK (120, 140 e 150), além, claro, do lendário E-Type. Reza a lenda que quando Enzo Ferrari viu o trabalho do designer Malcolm Sayer, disse que o modelo era o "carro mais bonito já feito". Sua produção começou em 1961 com o Série 1, equipado com um 3.8 seis-cilindros, e acabou em 1975 com o Série 3 e seu V12 5.3.

E o que foram os carros de corrida da Jaguar? Primeiro veio o C-Type, fruto de uma obsessão de Sir William Lyons em vencer as 24 Horas de Le Mans – o que dois dos 54 modelos fabricados conseguiram, em 1951 (na primeira tentativa) e 1953.

Daí veio o D-Type, equipado com o mesmo 3.4 litros de seis-cilindros, agora com 250 cv. Que ficou em segundo lugar na primeira tentativa, em 1954, mas levou as edições de 1955, 1956 e 1957 das 24 Horas de Le Mans.

Jaguar XKSS (Imagem: divulgação)

E dele nasceu o XKSS, em 1957. Quando decidiu encerrar seu programa de corridas, a Jaguar transformou parte dos 25 D-Type em estoque em carros de rua, que alcançavam 240 km/h de velocidade máxima e tinham freios a disco nas quatro rodas – desbundes para aquela década.

Sem falar nos sedãs: o Mark II (1959 a 1967) estreou a carroceria monobloco nos carros da marca, enquanto o XJ (1968) foi considerado pelo próprio Sir William Lyons como "o melhor Jaguar de todos os tempos". Tão bom que está aí até hoje, na sétima geração.

O ponto é: em 97 anos de história, a Jaguar teve momentos de ousadia, transgressão e personalidade, mas nada que se compare ao que realizou realizou com o I-Pace, primeiro modelo elétrico da marca. Ao construir um carro espaçoso, confortável, em certa medida esportivo e com autonomia de até 480 quilômetros, estabeleceu um divisor de águas não apenas na própria história, como na do automóvel.

Talvez o paralelo mais próximo em termos de coragem e poderio técnico tenha sido o XJ220.

Jaguar XJ220 (Imagem: divulgação)

340 KM/H 

Talvez a vida estivesse entediante para os engenheiros da Jaguar naqueles meados dos anos 1980, a ponto de alguns deles se reunirem aos sábados para divagar sobre carros que poderiam criar fora dos padrões. Encabeçado pelo engenheiro-chefe Jim Randle, o Saturday Club – como ficou conhecido o tal grupo – começou então a planejar um carro-conceito que pretendia atender a uma nova categoria de corrida, o Gruop B. Rabiscado pelo designer-chefe da empresa, Keith Helfet, o futuro modelo não tinha nome, apenas um código: XJ220, que se referia a uma produção inicialmente limitada a 220 unidades.  

O conceito foi adiante e a Jaguar decidiu exibi-lo durante o British International Motor Show de 1988, do qual o XJ200 fora a principal atração. Sair da linha de produção ocorreu apenas em 1992. 

Jaguar XJ220 (Imagem: divulgação)

Para alcançar níveis superiores de esportividade, a Jaguar chamou a Tom Walkinshaw Racing para executar seu projeto de supercarro. Projetado para ter um V12 e tração integral, o XJ220 acabou nascendo com um 3.5 V6 biturbo (central), de 550 cv e 65,3 kgfm de torque – nada mau para um esportivo de sua estirpe, cujos 340 km/h de velocidade final fizeram dele o carro mais rápido do mundo até então.

Jaguar XJ220 (Imagem: divulgação)

Contudo, boa parte dos clientes já havia depositado £ 50.000 de sinal para ter um Jaguar…V12, e não V6. Reside aí parte do insucesso comercial do modelo, que acabou dando prejuízo à empresa – embora seu preço fosse de exorbitantes £ 470.000. Em 1994 o XJ220 sai de cena, após 275 unidades produzidas.

Hoje o XJ220 é um clássico indiscutível, cobiçado e valorizado: em 2003, um exemplar 1993 foi leiloado pela RM Sotheby's por US$ 157.500; doze anos depois, outro semelhante a este foi arrematado por US$ 462.000. Leilões mais atuais já estima valores ao redor dos US$ 500.000.

"Um modelo de referência na ilustre história da Jaguar, o XJ220 ainda é o carro de produção mais rápido da marca. Como tal, permanece altamente colecionável, sendo procurado pelos aficionados da Jaguar e pelos colecionadores de supercarros", resume a RM Sotheby's.

Jaguar XJ220 (Imagem: divulgação)

DE SIDECARS A AUTOMÓVEIS

A história da Jaguar começa em 1922, quando William Lyons e William Walmsley fundaram a Swallow Sidecar Company, fabricante daqueles carrinhos acoplados em motocicletas – que logo ganharam fama por esbanjarem estilo e qualidade. Depois, em 1927, começaram a flertar com automóveis construindo as carrocerias do Austin Seven.

Contudo, os primeiros carros próprios chegam somente em 1931: SS1 e SS2, com motores e chassis fornecidos pela Standard, empresa vizinha em Coventry. Os dois modelos inspiram a primeira mudança de nome, de Swallow para SS Cars, que ganha ainda mais fama com o SS Jaguar 90 e o SS Jaguar 100.

Após a Segunda Guerra Mundial, o "SS" sai do nome da empresa – para evitar a óbvia associação com a Schutzstaffel, ou SS, organização paramilitar ligada ao nazismo – e "Jaguar" vira enfim o nome da fabricante.

E é durante o combate que seus engenheiros decidem que é hora de a fabricante ter o próprio motor. Daí começa o desenvolvimento de um seis-cilindros em linha, que estreia em 1948, durante o Salão do Automóvel de Londres, no XK120. Por cerca de 40 anos, se manteve praticamente inalterado, apenas variando entre versões de 2.4, 2.8, 3.4, 3.8 e 4.2 litros.

Falando em motores, o V12 chega em 1971, enquanto o primeiro V8 da Jaguar estreia apenas em 1996, no XK8.

Jaguar XJ220 (Imagem: divulgação)

 

 

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

I-Pace pode ter sido maior ruptura da Jaguar, mas XJ220 rompeu tradições - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.