Placa Mercosul não tem o "charme da placa preta", reclamam colecionadores
Rodrigo Mora
23/03/2019 08h00
Este Fusca é um dos primeiros a receber a Placa Mercosul no Rio Grande do Sul (Imagem: Diogo Boos)
(SÃO PAULO) – Mesmo que já somem-se mais de 1 milhão de veículos em todo o país exibindo a Placa Mercosul, ainda é estranho ver frentes e traseiras ostentando o novo padrão estético. Quando estampadas em um carro antigo, então…
Ainda rara em automóveis de coleção, não tem agradado aos colecionadores.
"Quando tiver que instalar em algum carro, não vou mais fazer questão de ter a placa de coleção, visto que o novo modelo não é nada atrativo e perdeu o charme, pois a única diferença está nas letras cinzas, praticamente imperceptíveis", reclama o administrador de empresas Dirceu Júnior.
A exceção será um Dodge B200, que desembarcará dos Estados Unidos no próximo mês. Essa é uma das condições obrigatórias atualmente para substituir a atual pela nova chapa: veículos importados, que portanto nunca viram uma placa brasileira, ganham automaticamente a do padrão Mercosul.
Outro alvo são as mudanças de propriedade, como aconteceu com o advogado Diogo Boos, que mora em Novo Hamburgo (RS). Ao adquirir um Fusca em dezembro, não teve escolha e instalou a placa de fundo branco e letras prateadas. Será a única da sua coleção assim, pois os demais 13 carros continuarão com a placa de fundo preto e letras cinzas.
Sua principal decepção foi com os custos. "No inicio achei que teria pouco diferencial, mas com o tempo fui me acostumando e atualmente acho discreta mas bonita, a Placa Mercosul. O maior problema é que o valor do par de p
Troca de município ou de placa danificada também levam ao novo modelo.
Só serve para decorar?
Júnior e Boos moram no Paraná e no Rio Grande do Sul, respectivamente. São os primeiros estados a adotarem o novo esquema, assim como Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e o Rio de Janeiro, onde fica Marcelo Berek, também insatisfeito com a decoração do para-choque do seu Mercedes-Benz SL.
"Perdeu totalmente a graça. A placa é facilmente confundida com a placa de carro normal. Na minha opinião, deveria ter ou uma tarja preta ou escrito 'carro de coleção' ou simplesmente 'coleção'", avalia o comerciante.
Algo parecido com sua ideia chegou a ser pleiteado pela Federação Brasileira de Veículos Antigos, em 2014. A ideia era exibir, no lugar do brasão do município, o brasão da FIVA (Fédération Internationale des Véhicules Anciens, a entidade máxima do antigomobilismo), que é um calhambeque. No caso de Hot Rods e modelos artesanais, haveria um brasão específico. Segundo um ex-presidente da FVBA, o modelo havia sido inclusive aprovado na comissão temática do Denatran e seguiria para o Contran.
Mas placa de coleção – em vigor desde 1998 – só atende a vaidades?
"A placa preta surgiu para que automóveis de coleção tivessem suas caraterísticas originais preservadas e pudessem continuar rodando, sem punições a seus proprietários. Então, deixou de ser imperativo que se instalassem, por exemplo, cintos de três pontos ou retrovisores do lado direito em carros que originalmente não os tivessem. Muitos recursos em prol da segurança e da redução de poluentes são incompatíveis com veículos mais antigos, sendo praticamente impossível atualizá-los. O Certificado de Originalidade, que leva à placa preta, protegeu os veículos dessas alterações, que acabariam com sua originalidade e seu valor histórico", explica Fábio Pagotto, diretor técnico da FBVA.
Sobre o autor
Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.
Sobre o blog
O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.