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Ford fez Corcel, Maverick e até VW na fábrica de São Bernardo do Campo

Rodrigo Mora

21/02/2019 07h00

(SÃO PAULO) – A esperada comemoração pelos 100 anos da Ford no Brasil não vai acontecer. No lugar da festa, o velório pelo encerramento das atividades da fábrica de São Bernardo do Campo, às margens da Rodovia Anchieta, anunciado ontem.

Planta histórica e símbolo da industrialização da região ABC, fora erguida pela Willys Overland em agosto de 1952. De lá saíram modelos como Jeep CJ-5, Rural, Aero-Willys, Itamaraty, Interlagos, Dauphine e Gordini.

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Assumida pela Ford em 1967, a planta são-bernardense expeliu seu primeiro produto Ford em 1968. Herança do Projeto M, um compacto desenvolvido pela Willys com base no Renault 12, o Corcel estreou em setembro, apenas com carroceria de quatro portas e na versão Standard.

Sua construção era moderna para a época: carroceria monobloco, tração dianteira, motor (1.289 cm3, 68 cv) com comando de válvulas no bloco e suspensão dianteira independente, entre outros recursos distintos. O cupê e a variante esportiva, GT (de 80 cv), viriam no ano seguinte; a estreia da Belina ocorreu em março de 1970. Bem-sucedido ao entregar o porte e a economia que a classe média buscava, o Corcel chegou à 100.000ª unidade produzida em 1971.

No início de 1973 o Maverick se junta ao Corcel em São Bernardo do Campo. Era a reação da Ford ao Chevrolet Opala – até hoje discussões sobre qual era melhor, qual dava pau no outro, fervem. Um seis-em-linha de 3.016 cm3 e 112 cv arrastava a versão de entrada, enquanto um V8 de 4.950 cm3 e 197 cv dava algum brilho ao GT – único com freios a disco na frente.

Um Maverick familiar, com quatro portas, chega em novembro de 1973 acompanhado de uma incoerência: seu porta-malas, de 397 litros, era menor do que o do cupê, que comportava 427 litros. O sucesso esperado pela Ford não aconteceu, e seu modelo intermediário, entre o espartano mas eficiente Corcel e o luxuoso Galaxie, recebeu em junho de 1975 um motor quatro-cilindros, que fez as vendas do modelo triplicarem. Uma reestilização discreta e as versões GT quatro-cilindros e LDO aparecem em 1976. Seu fim é decretado em abril de 1979, após 108 mil unidades produzidas.

Corcel II e sua família

Se o primeiro Corcel teve pouca intervenção da Ford, o Corcell II foi projetado aqui, inspirando-se visualmente em modelos como Taunus, Cortina e Granada, carros médios da Ford alemã e britânica. Lançado em novembro de 1977, estreou nas configurações cupê e perua (Belina) e com quatro níveis de acabamento: standard, L, LDO e GT. Muitos se enganaram pelos 27 cm a mais de portas dianteiras, mas a segunda geração praticamente mantinha o mesmo comprimento: de 4,40 metros, esticou para 4,47 m.

Manter o tímido motor 1.4 (um novo 1.6 de 90 cv se tornou opcional a partir de 1978) do modelo anterior não foi problema, e já no primeiro ano de vida o Corcel II emplacou 100 mil unidades. Mais uma vez, o Corcel se mostrou um produto bem ajeitado para o mercado brasileiro: em fevereiro de 1981 foi o líder de vendas. Após 1,3 milhão de unidades fabricadas, Corcel e Belina saem de linha em julho de 1986. 

Com o fim do Maverick, a Ford escalou o Del Rey para tentar combater o sucesso do Opala. Foi em maio de 1981 que o modelo chegou ao mercado, baseado na plataforma do Corcel II, com carroceria de duas e quatro portas e motores a gasolina ou a álcool. Mirando num público mais abonado, seu acabamento interno era mais refinado do que o do "primo" Corcel (seu painel de instrumentos era um dos mais completos da época).

Em 1983, a transmissão automática se tornara um equipamento opcional. O ano marca também o lançamento da Scala, que era uma Belina com cara e conteúdo do Del Rey, e o anúncio do motor CHT que toda a linha Corcel receberia em 1984. Del Rey e Del Rey Belina (como fora rebatizada a Scala em julho de 1986) se aposentam em junho de 1991.

Em 1982 chega a Pampa, picape também originada do Corcel II, porém alongada em 13 cm por conta de suas pretensões utilitárias – que também incluíam embreagem reforçada, primeira marcha de relação mais reduzida. Equipada com motor 1.6, tinha capacidade de carga de 600 kg. A versão 4×4 é apresentada em 1984.

Escort, o primeiro carro mundial

No ano seguinte ao lançamento da Pampa, a Ford apresentou o Escort, seu primeiro automóvel mundial, que estreara três anos antes nos EUA e na Europa. Sua produção local obrigou a Ford a modernizar equipamentos, maquinários e processos da planta de São Bernardo, cuja capacidade de produção saltou de 160 mil para 220 mil unidades por ano.

Ao lado do Monza, era um dos mais modernos no país, com padrões de construção e recursos de segurança internacionais: carroceria deformável, direção retrátil, cintos de três pontos inerciais, entre outros itens. A versão esportiva XR3 foi o sonho de consumo da classe média-alta. A primeira reestilização é de 1986, acompanhando as mudanças do modelo europeu. Em 1989, as versões Ghia e XR3 recebem o motor Volkswagen AP 1800, de 92 cv. Dois anos depois, o XR3 inovou com a série especial Fórmula, limitada a 750 unidades e cujo destaque era a suspensão com assistência eletrônica, que podia ficar mais rígida ou mais macia automaticamente.

O último Escort nacional (que mais tarde adotaria cidadania argentina) é apresentado no XVII Salão do Automóvel, em novembro de 1992, como linha 1993, mais uma vez alinhado ao exemplar europeu. Em setembro de 1993 a Ford, enfim, entra no segmento dos carros "mil"com o Escort Hobby, equipado com o motor de 997 cm3 e 52 cv já encontrado sob o capô do Gol 1000.

Autolatina e Fiesta

Corria dezembro de 1989 quando a Ford apresentou o Verona, primeiro lançamento na fase Autolatina (a união entre Ford e Volkswagen, que durou de 1o de julho de 1987 a 1o de setembro de 1994), embora sua concepção fosse anterior ao acordo. Utilizava a plataforma do Escort e deu origem ao Volkswagen Apollo, em maio de 1990, esse sim o primeiro produto fruto da união (que não foi muito longe, saindo de cena em novembro de 1992).

Da costela do novo Escort saíram Logus (fevereiro de 1993) e Pointer (dezembro de 1993). Esses modelos cabiam à Ford produzir; Versailles (1991) e Royale (1992), clones de Santana e Quantum, saíam da planta da Volkswagen, a poucos quilômetros dali, também na Anchieta.  

Maio de 1996: o Fiesta, que desde 1995 era importado da Espanha, virou cidadão brasileiro, lançado com três e cinco portas, duas versões de acabamento e motores 1.0 (53 cv), 1.3 (60 cv) e o Zetec 1.4 16 válvulas, de 89 cv. Foi o segundo grande pico de modernização da fábrica, exigindo reorganização das linhas de produção e investimento em mais equipamentos.

Na sequência, vieram o subcompacto Ka (1997), a picape Courier (1997) e o New Fiesta (2010).

 

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Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.