Relembre os carros que marcaram a inauguração de Brasília, há 60 anos
(SÃO PAULO) – Para contar a história da fundação de Brasília, ocorrida em 21 de abril de 1960, é obrigatório passar pela Caravana da Integração Nacional.
Tratou-se de uma viagem bolada pelo major José Edson Perpétuo para enaltecer a engatinhante indústria automobilística nacional, formalizada quatro anos antes pelo GEIA (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), órgão responsável pelos estímulos à produção local.
Procedentes dos quatro cantos do Brasil, 130 veículos invadiram em fevereiro de 1960 aquela que se tornaria a capital do país dali a dois meses. Só modelos nacionais puderam participar.
Nenhum teve o protagonismo da Romi-Isetta, veículo escolhido pelo então Presidente da República Juscelino Kubitschek para desfilar pela Esplanada dos Ministérios. Foram 25 exemplares, cujos donos formavam o Clube dos Proprietários de Romi-Isetta, vindos de São Paulo. "Melhor eu ir em pé aqui", disse JK no instante em que entrou no diminuto modelo, que contava com um largo teto retrátil.
Concebida pelo projetista de aviões Ermenegildo Pretti, a Isetta foi lançada na Itália em 1953. Com 2,25 m de comprimento, 1,40 m de largura e 300 kg, lhe bastava um pequeno motor bicilíndrico de 236 cilindradas e 9,5 cv para desbravar as estreitas ruas italianas no pós-guerra.
Em junho de 1955, o industrial Américo Emílio Romi e seu enteado, Carlos Chiti, viajaram à Itália para negociar com a Iso os direitos de licença para produzir o modelo no Brasil. Até então uma bem-sucedida produtora de tornos mecânicos localizada em Santa Bárbara d'Oeste (SP), a Romi se tornaria também fabricantes de automóveis.
O primeiro Romi-Isetta ficou pronto em 30 de junho de 1956. Chassis 56001, combinando as cores creme e vermelho e com pneus com faixa branca. Tinha como destino a Industrial de Óleos Nordeste. Era levemente diferente do modelo italiano, medindo 2,28 m de comprimento e 1,38 m de largura e pesando 350 kg. Até 1958 o motor era da Iso; de 1959 a 1961 adorou um BMW, de 298 cm3 e 13 cv.
Fusca, Kombi, DKW e Simca
Como é de se supor, não faltaram os primeiros Volkswagens fabricados por aqui. A Kombi havia saído da então nova fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo (SP), em 2 de setembro de 1957. Sem muitas alterações seguiu até 1976, quando avançou à segunda geração (o que na Alemanha, seu país de origem, havia ocorrido nove anos antes) e ganhou o apelido "Clipper".
A obrigatoriedade de freios antiblocantes (ABS) e dos airbags frontais para todos os automóveis produzidos a partir de 1 de janeiro de 2014 interrompeu a entrada da Kombi na terceira idade. Então com 56 anos de produção nacional (fora os sete de importação), ganhou a versão Last Edition, que marcaria seu fim com 600 unidades para colecionadores dispostos a pagar R$ 85 mil.
Não poderia ter sido mais desastroso, pois duplicaram a produção de um exemplar limitado e, no fim das contas, a Last Edition não tinha nada de última: como se vê no acervo da marca, a última Kombi é Standard, branca e básica.
Já o Fusca estava por aqui desde setembro de 1950, quando as primeiras unidades desembarcaram no Porto de Santos importadas pela Brasmotor – que, a partir de janeiro do ano seguinte, passou a recebê-los desmontados (no esquema CKD) e montava-os aqui.
Em 1953, a coluninha central do vidro traseiro desapareceu e logo veio o apelido "oval". Com esse visual o Fusca inaugurou a manufatura da Volkswagen no Brasil, em 23 de março daquele ano. Num galpão na Rua do Manifesto, no bairro paulistano do Ipiranga, doze operários montavam o carro, que chegava da Alemanha desmembrado.
Da fábrica da Anchieta, o Fusca só sairia em janeiro de 1959. E dela se despediria pela primeira vez em 1986, marcado pela versão Última Série. Voltaria em 1993 e daria adeus definitivo em 1996 com a Série Ouro.
Não foi imagem comum como Fuscas, Kombis e Romi-Isettas, mas também apareceram por lá picapes da Chevrolet. Instalada no Brasil desde 26 de janeiro de 1925, a General Motors apresentou em 1948 a família Advance Design. Alinha à matriz nos EUA, adotava as mesmas divisões de linhas produtos: Loadmaster abarcava os pesados e Thriftmaster reunia picapes e furgões médios, como os modelos 3100, 3600 e 3800 – esta última versão a do clube, equipada com um motor seis-cilindros de 3.549 cm3 e 92 cv.
Quase inteiramente importado, o carro era apenas montado aqui. Uma reestilização, que levou o apelido "Boca de Sapo" a dar lugar ao "Boca de Bagre", veio em 1954. Já a nacionalização foi apenas em 1958, em março com o caminhão 6503 e em julho com a picape 3100 Brasil. No final de 1960, o SUV Amazona incrementaria a linha com três fileiras de bancos e porta-malas de 580 litros.
Também se viram alguns modelos da DKW, uma das marcas que formaram a Auto Union. A empresa chegara ao Brasil por meio da Vemag (Veículos e Máquinas Agrícolas S.A.), que desde 1945 montava e distribuía carros da americana Studebaker e os caminhões suecos da Scania, além de máquinas agrícolas.
O primeiro nacional foi a perua F-91 Universal, conhecida como Vemaguet, nascida em novembro de 1956 – o que leva a uma discussão polêmica sobre ter sido ela, e não a Romi-Isetta, o primeiro carro fabricado no Brasil. Seu motor de três cilindros tinha 900 cm³. O fim da Vemag foi melancólico. Com dívidas, a empresa foi comprada em 1967 pela Volks, que em seguida encerrou a produção tanto da perua quanto do sedã Belcar.
Aqueles com a vida financeira abençoada apareceram de Simca Chambord, modelo lançado em 1959. Era um luxuoso sedã de ascendência francesa e estilo imitador dos carros americanos. Motores V8 são sinônimo de força, mas não no caso do Chambord, que tinha fracos 84 cv. A tração era traseira e o câmbio automático tinha três marchas.
Mas causava boa impressão e tinha certo espaço interno dentro dos seus 4,75 m de comprimento. Havia certos elementos conectados à ideia de luxo, como interior bicolor.
A Simca ainda se multiplicou com os modelos Présidence, Jangada, Alvorada, Esplanada e Regente, mas teve vida curta: já sob comando da Chrysler, desapareceu em 1967.
Culminando em Brasília, a caravana vinha dos quatro cantos do país. Isso quer dizer que muitos enfrentaram estradas ainda em construção, quando não quase intransitáveis. O que não era problema para quem vinha com os Willys Jeep e Rural.
Ao lado da Ford e da Bantam, a Willys-Overland foi uma das fornecedoras de Jeeps para o exército norte-americano durante a Segunda Guerra Mundial.
Instalada no Brasil desde meados da década de 1950, a empresa montava aqui os Jeeps em sua versão civil e também o SUV Rural, que trazia a mesma mecânica do jipe, porém com tração 4×2 ou 4×4 e carroceria de aço fechada de duas portas e seis lugares. O motor era um seis-cilindros de 2,6 litros.
Outros modelos vieram depois, como Aero-Willys, Dauphine, Interlagos e Gordini, além de atualizações nos utilitários – a Rural seguiu até 1977, enquanto o Jeep foi fabricado até 1982. Em 1968, a Ford assumiu o controle da Willys no Brasil.
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