Topo

Mora nos Clássicos

Fiat 147 Pickup abriu caminho para Strada e quase teve Opala como rival

Rodrigo Mora

09/04/2020 07h00

(SÃO PAULO) – Se a Strada, que acaba de avançar enfim à segunda geração, domina há duas décadas o segmento das picapes compactas, em parte é porque um 147 recortado da coluna B para trás desbravou tal caminho. Revelado no Salão do Automóvel de 1978, o 147 Pickup não foi ali nem de longe a estrela que seria a Strada em um hipotético Salão em 2020. Foi uma resposta para algo que ninguém havia perguntado.

Fiat 147 Pickup 1978 (Imagem: divulgação)

Mas logo as concorrentes sentiram o golpe que tomaram da Fiat. A começar da General Motors, que perdeu a chance de ter inaugurado o lucrativo segmento dos utilitários derivados de automóveis três anos antes da rival italiana: a linha 1975 do Opala deveria ampliar a gama não só com a perua Caravan, mas também com uma picape baseada no sedã.

Adalberto Bogsan, engenheiro da área de design que trabalhou na GM entre 1962 e 2001, certa vez desvendou a este blog a intimidade dos planos da marca. "Naquele momento já se falava em um substituto para o Opala, então não compensaria investir em um produto novo para linha. A Caravan já existia lá na Alemanha e compartilhava muita coisa com o Opala. Já a picape demandaria muitas adaptações e ferramental distinto", relembrou.

"Opalete" bateu na trave em 1974 (Imagem: acervo MIAU)

Não haveria mistério, pois a matriz já fazia carros do tipo desde 1959, quando lançou a El Camino, um Impala com caçamba. Que naqueles meados de 1970 já estava na quarta geração, então baseada no médio Chevelle.

El Camino apareceu em 1959, como picape do Impala (Imagem: divulgação)

Ainda de acordo com Bogsan, um designer da Chevrolet americana veio dos EUA para analisar o projeto. Foi dele a sugestão de inclinar a coluna B, "que daria ao carro o DNA da marca". Era claramente uma inspiração na El Camino.

No fim, a picape do Opala não foi longe, sequer avançou para os testes de durabilidade. Bogsan também esclareceu que o nome "Opalete" nunca veio da GM, mas de uma reportagem da revista Quatro Rodas, de fevereiro de 1974, que cravava que este seria o nome do carro – tratado internamente pela fabricante como V80.

O protótipo foi destruído pouco tempo depois. Dele restaram escassos relatos e a foto que hoje faz parte do acervo do Museu da Imprensa Automotiva.  

Um rival da Chevrolet para o Fiat 147 Pickup surgiu apenas em 1983 com o Chevy 500 (baseado no Chevette), quando Ford Pampa e Volkswagen Saveiro já estavam na briga.

Chevrolet Chevy 500 (Imagem: divulgação)

Entre o Fiat 147 Pickup e a Strada

Instalada no Brasil há apenas dois anos, a Fiat tinha uma gama de produtos formada somente por 147 (1976) e 147 Furgão (1977) quando o 147 Pickup estreou, com base de 147, tampa traseira aberta da direita para a esquerda, capacidade de carga de 380 kg e motores 1.0 a gasolina e 1.3 a etanol.

Fiat 147 Pickup (Imagem: divulgação)

É carro raro hoje, pois logo em 1981 se transferiu para a plataforma da Panorama, no que esticou o comprimento (3,78 m), elevou a capacidade de carga (500 kg) e ficou mais prático com a tampa da caçamba agora articulada em sua base. O rebatismo para Fiorino Pickup chancelou as mudanças.

Para a versão que sonhava com bicicletas e pranchas de surfe no lugar de sacos de areia e ferramentas na caçamba, sobrenome City e frente "Europa", como foi conhecida a primeira reestilização do 147, alinhando-o visualmente ao italiano 127.

Versão City dava ar menos braçal à picape (Imagem: divulgação)

Em 1988 a Fiorino passou a derivar do Uno, o que lhe permitiu oferecer mais espaço interno (também privilegiado com uma ergonomia melhorada) e condição de carregar até 620 kg na caçamba. Motor era 1.3, de 58 cv na versão a gasolina e 60 cv na unidade movida a etanol.

Base da Fiorino é a do Uno a partir de 1988 (Imagem: divulgação)

No ano seguinte, a versão LX buscava imagem mais descolada com faixas laterais e faróis de longo alcance no teto. Em 1991 veio a reestilização que achatou os faróis e substituiu o 1.5 Fiasa pelo 1.6 Sevel, de até 88 cv.

Fiorino LX 1991 (Imagem: divulgação)

Afora a esticada no entre-eixos em 1994 e a versão Trekking, de 1995, a Fiorino pouco mudou até passar o bastão à Strada, lançada em 1998 sobre a plataforma do Palio.

Fiat Strada 1998 (Imagem: divulgação)

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.