Lado B da Alemanha: marcas menos famosas do que Porsche, Mercedes e VW
(SÃO PAULO) – A NSU nasceu antes mesmo do automóvel. Em 1873, os mecânicos Christian Schmidt e Heinrich Stoll montaram uma oficina de máquinas de tricotar em Riedlingen, na Alemanha. Sete anos depois, Schmidt seguiu em carreira solo para Neckarsulm, fundando em fevereiro de 1884 a Neckarsulmer Strickmaschinen-Fabrick AG.
A ideia era expandir as atividades industriais da empresa, o que aconteceu dois anos depois com a Germania, a primeira bicicleta construída pela empresa. A demanda cresceu e, em pouco tempo, era o principal produto da empresa. Até que em 1900, oito anos depois de abandonar as máquinas de tricotar, a NSU se tornou a primeira fabricante alemã de motocicletas, vendidas em lojas próprias. Os primeiros modelos tinham motores de 2 a 3,5 cv.
Tal foi o sucesso que a NSU era a principal exportadora alemã de motocicletas até pouco antes da Primeira Guerra Mundial, alcançando mercados em grande parte da Europa, em Moscou, na Turquia – e até no Brasil seus modelos vieram parar, abastecendo a guarda civil de São Paulo. Em 1914, a fábrica de Neckarsulm contabilizava 12 mil bicicletas, 2.500 motocicletas e 400 automóveis produzidos no último ano.
Seu primeiro contato com automóveis foi em 1888, ao fornecer 20 chassis a Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach, engenheiros alemães que dois anos depois fundariam a Daimler Motoren Gesellschaft – por sua vez o par da Benz & Companie Rheinische Gasmotoren-Fabrik na fusão que resultaria na Daimler-Benz AG, em junho de 1926. Outros 13 chassis foram entregues à Peugeot logo depois.
Em 1905, o primeiro carro saído da planta de Neckarsulm era um modelo da belga Pipe, feito sob licença. No mesmo ano é apresentado o Sulmobil, o primeiro automóvel desenvolvido pela marca.
Produtora de bicicletas, motos, carros e utilitários leves, a NSU saiu da Segunda Guerra Mundial como as demais fabricantes: retomando lentamente sua atividade civil com exemplares pré-guerra repaginados. Somente em 1958 surge o Prinz, modelo totalmente novo na gama da NSU.
Mas foi no Salão de Frankfurt de 1963 que a NSU fincou seu nome na história do automóvel ao revelar o Spider, primeiro carro em série equipado com um motor rotativo. Inventado pelo engenheiro nazista Felix Wankel, troca os pistões por câmaras circulares com rotores em forma de triângulo para gerar combustão. Além de ocupar menos espaço, era mais leve e, com menos peças se movimentando, era mais suave do que um propulsor convencional.
Quatro anos mais tarde a NSU impressionaria de novo com o Ro 80, um sedã revolucionário que desembarcou parecendo uma espaçonave no mercado europeu. Inovações como câmbio semi-automático ("manual" na troca de marcha, não tinha pedal de embreagem), suspensão independente nas quatro rodas e ampla área envidraçada, foi eleito Car Of The Year em 1968. Também era dotado de um motor Wankel, aqui com 115 cv.
O problema é que, além de caro, o Ro 80 consumia muito combustível e tinha fama de não confiável. Até 1977, apenas 37 mil unidades foram fabricadas.
No final de 1966, a Volkswagen já era dona de 100% da Auto Union, conglomerado formado pelas marcas Audi, Horch, DKW e Wanderer. Em 1969, a gigante alemã toma também a NSU, formando um novo grupo: Audi NSU Auto Union AG.
Fusca, Fiat e Passat
Uma aguda crise em meados dos anos 1920 levou a NSU a ceder, em 1928, sua planta de Heilbronn à Fiat, que buscava ampliar sua capacidade industrial. Foi quando a marca parou de fabricar seus próprios carros e passou apenas a fornecer chassis e motores de seis cilindros à montadora italiana. Os novos modelos eram comercializados sob a marca NSU-Fiat.
Mas logo se separaram, e a NSU retomou sua independência em 1932. No ano seguinte, outro capítulo importante na trajetória da empresa: o então diretor de vendas, Fritz von Falkenhayn, determinou o desenvolvimento de um novo modelo barato e compacto. Três protótipos daquele modelo encomendado ao escritório de Ferdinand Porsche foram construídos, mas barreiras financeiras impediram que a NSU fosse adiante com o Type 32 -projeto que pouco tempo depois daria origem ao Volkswagen Fusca.
E não seria o último carro "perdido" para a Volkswagen. No Salão de Genebra de 1969 a NSU apresentou o K70, um moderno sedã com tração dianteira e motor dianteiro refrigerado a água – duas características buscadas pela conterrânea para renovar sua gama, até então baseada no Fusca e seus derivados. Como nova dona da NSU, a Volkswagen não se intimidou em pôr o K70 em produção não como um autêntico NSU que era, mas sim com seu símbolo estampado por toda parte.
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