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Mora nos Clássicos

Em 100 anos, Mazda fez fama entre entusiastas e passou uma década no Brasil

Rodrigo Mora

15/02/2020 07h00

(SÃO PAULO) – Mais gente deveria saber da história da Mazda. A marca japonesa é do tipo que merece que qualquer entusiasta automotivo conheça sua origem de produtora de cortiça na Hiroshima de 1920. E que somente em 1931 a Toyo Kogyo Company – após trocar a cortiça por máquinas de fazer ferramentas – começou a construir triciclos de carga, os Mazda-Go. 

No tanque dos Mazda-Go, o símbolo da Mitsubishi, responsável pelas vendas do triciclo (Imagem: divulgação)

A seguir vieram o sucesso comercial, os caminhões de uma tonelada e a bomba sobre Hiroshima, em 6 de agosto de 1945. A produção foi retomada pouco tempo após o fim da Segunda Guerra Mundial, ainda focada em veículos comerciais. Em 1960 o R360 abriu caminho para os modelos de passeio da Mazda.

Produção do R360, primeiro carro de passeio da Mazda (Imagem: divulgação)

Mas não foram cortiças, triciclos, caminhões ou carrinhos urbanos que fizeram da Mazda a marca reconhecida por fazer automóveis pensando, em primeiro lugar, no motorista. São esportivos puros, simples e acessíveis que põem a fabricante japonesa em todas as listas do tipo "carros que você deveria dirigir antes de morrer".

Cosmo Sport é revelado no Salão de Tóquio de 1964 (Imagem: divulgação)

O primeiro deles foi o Cosmo Sport, conhecido como 110S fora do Japão. Apresentado no Salão de Tóquio de 1964, só chegou às concessionárias em maio de 1967, após quase 700.000 quilômetros de testes. Era preciso experimentar exaustivamente os motores rotativos, uma invenção que a Mazda licenciara da alemã NSU, empregadora do engenheiro Felix Wankel, por sua vez o inventor dos propulsores que trocam os pistões por câmaras circulares com rotores em forma de triângulo para criar a combustão.

Cosmo Sport (Imagem: divulgação)

Com 110 cv, tração traseira e um design ousado, distinto e elegante, o Cosmo Sport não precisou de mais do que 1.176 unidades produzidas até 1972 para definir o DNA inventivo e "fun to drive" da Mazda.

Em 1978 surgiu a primeira geração do RX-7, que teve como principal destino o mercado norte-americano. The Pursuit of Driving Pleasure foi o slogan de lançamento, que hipnotizou os "gearheads": as 4.000 unidades importadas mensalmente não davam conta da demanda, e os mais desesperados chegavam a pagar US$ 3.000 a mais sobre o preço de tabela para furar fila.

Primeiro Mazda RX-7 foi lançado em 1978 (Imagem: divulgação)

Seu motor, também rotativo, equivalia a um convencional de 1.146 cc e rendia 135 cv, o suficiente para acelerar até os 100 km/h em 9 segundos e chegar aos 210 km/h de máxima. O bom coeficiente aerodinâmico de 0,36 ajudava. Mas a melhor parte do RX-7 era a dirigibilidade aguçada, conquistada pelo baixo centro de gravidade, pela direção de repostas diretas e por uma distribuição de peso quase ideal, de 50% para cada eixo – o motor ia sobre o da frente, mais recuado, o que permitia à Mazda dizer que se tratava de um motor central dianteiro.

Mazda RX-7 (Imagem: divulgação)

Originalmente planejado como um "two seater", teve que acomodar um banco traseiro minúsculo para atender uma legislação japonesa que determinava a existência de mais de dois assentos, a fim de encorajar o compartilhamento de carros. Foram produzidas quase 475.000 unidades até 1985.

Mazda RX-7 (Imagem: divulgação)

Mais reconhecível RX-7, contudo, é o da terceira geração, lançada em 1991. É o ápice da gama, e não por acaso foi eleito carro do ano pelas revistas Motor Trend e Playboy; a Road & Track depois de dirigir,  cravou: "é o esportivo mais estimulante do mundo". As séries finais tinham 276 cv e arrancavam até os 100 km/h em 5,6 segundos. Esse RX-7 só tinha dois defeitos: o interior apertado e o alto consumo de combustível.

Terceiro Mazda RX-7 é de 1991 (Imagem: divulgação)

Em 1989 a Mazda apresenta seu carro mais emblemático e popular. Chamado de Miata nos EUA, atende por MX-5 na Europa e Eunos Roadster no Japão. Tantas nacionalidades se misturaram também no desenvolvimento do pequeno conversível, já que sua concepção é resultado de americanos, britânicos e japoneses pensando juntos em como fazer um carro esportivo, instigante, compacto e acessível.

MX-5 (Imagem: divulgação)

Mais uma vez a Mazda acertou a mão na dirigibilidade, graças a uma reunião de fatores: distribuição de peso entre os eixos quase ideal, direção precisa e leve, tração traseira e motores pequenos, mas competentes – o 1.6 rendia 114 cv, enquanto um posterior 2.0 chegava a 167 cv. Entre os opcionais havia teto rígido removível e alto-falante nos encostos de cabeça.

MX-5 (Imagem: divulgação)

Hoje na quarta geração, já passou de 1.000.000 de unidades vendidas.

MX-5 2016 (Imagem: divulgação)

E como falar da Mazda sem passar pelo 787B, primeiro carro de corrida asiático a vencer as 24 Horas de Le Mans, em 1991. E também o único vencedor impulsionado por um motor Wankel – no caso, um 2.6 de quatro rotores e 710 cv.

Mazda 787B (Imagem: Rodrigo Mora)

No Brasil 

Infelizmente, a passagem da Mazda pelo Brasil foi breve. O desembarque foi em 1990, logo quando foram reabertas as exportações de veículos, interrompidas desde 1976. A marca japonesa vendeu por aqui os modelos MX-5, MX-3, 626 e Protege.

Os motivos sobre a saída do Brasil, em 2000, nunca foram esclarecidos oficialmente. A principal tese diz que a Ford, então sua acionista majoritária, decidiu encerrar suas operações para não sofrer concorrência.

Pra mim, cascata pura.

 

 

 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.