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Mora nos Clássicos

Primeiro placa preta do Brasil é um furgão Chevrolet de 1953; conheça

Rodrigo Mora

07/12/2019 07h00

(SÃO PAULO) – A partir de 22 de maio de 1998, data da publicação da resolução 56 do Contran, veículos com no mínimo trinta anos de produção e fiéis aos padrões de fábrica poderiam obter o certificado de originalidade, o acesso à placa preta. Portanto não demorou muito até que, em 15 de julho daquele ano, um Chevrolet 3800 1953 se tornasse o primeiro a conquistar o cobiçado atestado.

(Imagem: Clube do Chevrolet/divulgação)

Naquela época já pertencia ao Clube do Chevrolet. "No final dos anos 1980, promovíamos o evento 'Veteranos Chevrolet' no estacionamento do Shopping Center Norte. Num desses encontros, o furgão apareceu e foi oferecido a um diretor. Ele, particularmente, não tinha interesse. Mas, após conversas com os demais diretores, ficou decidido que o carro deveria compor nosso patrimônio, pois havia a necessidade de termos um ícone reconhecido aonde fôssemos", relembra Roque Gonçale, presidente do clube. Logo após a compra, veio a pintura com o logotipo da agremiação.

(Imagem: Clube do Chevrolet/divulgação)

Anos depois, ao lado da Federação Brasileira de Veículos Antigos, o Clube do Chevrolet foi um dos protagonistas na regulamentação dos veículos de coleção, que enfim poderiam circular mantendo suas características originais e desobrigados de receberem itens de segurança obrigatórios para modelos novos, como espelho retrovisor do lado direito, cinto de segurança de três pontos, entre outros.

(Imagem: Clube do Chevrolet/divulgação)

"Após várias idas e vindas a Brasília, conseguimos criar as famosas placas pretas, que diferenciam os veículos antigos por sua originalidade. Por conta dessa proximidade, os primeiros certificados vieram para o clube. E para não privilegiar nenhum colecionador, o atestado de numero 1 foi do furgão", explica Gonçale.

Nas mãos do Clube do Chevrolet, o utilitário passou por uma restauração, que envolveu a desmontagem de toda a frente, até a parede de fogo. Quem já viu o carro de perto sabe que esse trabalho de oito meses foi minucioso. Prova são os inúmeros prêmios recebidos em homenagem à sua importância história na indústria e ao seu estado de conservação.

SÓ MONTADO 

Instalada no Brasil desde 26 de janeiro de 1925, a General Motors apresentou em 1948 a família Advance Design. Alinha à matriz nos EUA, adotava as mesmas divisões de linhas produtos: Loadmaster abarcava os pesados e Thriftmaster reunia picapes e furgões médios, como os modelos 3100, 3600 e 3800 – esta última versão a do clube, equipada com um motor seis-cilindros de 3.549 cm3 e 92 cv.  

Quase inteiramente importado, o carro era apenas montado aqui. Uma reestilização, que levou o apelido "Boca de Sapo" a dar lugar ao "Boca de Bagre", veio em 1954. Já a nacionalização, apenas em 1958: em março com o caminhão 6503 e em julho com a picape 3100 Brasil de duas fases adiante daquela que estreara a gama Advance Design. 

Com a saúde firme aos 66 anos, o furgão não para quieto. Já participou de vários eventos, longe ou perto da garagem onde mora, na sede do clube (instalado na zona norte de São Paulo). A mais emblemática aventura, segundo Gonçale, foi pela região da Alta Mogiana (SP), numa sequência de eventos.

E parece que a aposentadoria está longe. Em 2020, as comemorações pelos 35 anos do Clube do Chevrolet levarão o valente furgão por tantos outros caminhos Brasil afora.

 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.