Há 30 anos, Trabant rompia Muro de Berlim para se misturar à Audi e cia.
(SÃO PAULO) – Hoje faz exatamente 30 anos que o Muro de Berlim caiu.
Erguido pelo governo da Alemanha Oriental (Deutsche Demokratische Republik, ou República Democrática Alemã) em 13 de agosto de 1961, tinha a finalidade de estancar a migração do lado comunista para o capitalista, conhecido como Alemanha Ocidental (Bundesrepublik Deutschland, ou República Federal da Alemanha).
Seus 155 quilômetros de extensão e 4 metros de altura dividiram, de repente, amigos, familiares e casais. Embora fosse intensamente patrulhado, mais de 100 mil pessoas tentaram atravessá-lo. De avião, de carro, por túneis subterrâneos, nadando ou falsificando identidades, entre outras ideias malucas. Vários filmes já trataram do tema. O mais recente, Ballon (2018), conta a história de duas famílias que subiram num balão para fugir.
Depois da queda, em 9 de novembro de 1989, não era mais preciso driblar soldados, cães de guarda ou arames farpados para chegar à Alemanha Ocidental. Bastava cruzar a fronteira. E os primeiros alemães orientais que o fizeram de carro estavam dirigindo um Trabant.
Curiosamente, aquele diminuto automóvel de apenas 3,36 metros de comprimento que farejava a outra Alemanha se apresentando a primos ricos e distantes – Audi, BMW, Mercedes… –, tinha acabado de completar 32 anos, pois o primeiro deles saíra da linha produção da VEB Sachsenring, em Zwickau, em 7 de novembro de 1957.
Sua existência era o cumprimento de uma ordem do Politburo, o comitê executivo dos partidos comunistas, dada três anos antes: "camaradas, precisamos de um rival para o Beetle. Como o carro da Volks, deve ser robusto, barato, econômico e adequado para uma família pequena. Com uma diferença: depender minimamente de materiais importados".
Depender minimamente de materiais importados significava que apenas a estrutura monobloco era de aço. Portas, capô, teto, tampa do porta-malas e para-lamas eram feitos em Duroplast, uma mistura de fibra de restos algodão com resina plástica prensada. Alguns diziam que o "Trabi" era de papelão, de tão leve.
O motor dois tempos, refrigerado a ar, de dois cilindros e 500 cm³ produzia 18 cv. Em 1962, o modelo P60 sucedia o P50 com um discreto salto, indo a 594 cm³ e 26 cv. Em nome da austeridade, abria mão até da bomba de combustível: o tanque ficava perto e acima do motor, para que a gasolina chegasse ao carburador pela gravidade. Em 1963 veio a versão 601, talvez a de estilo mais famoso.
Tão lento quanto o carro – que no auge ia pouco além dos 100 km/h – era sua produção, quase artesanal. Tanto que o tempo médio na fila de espera por um Trabant zero-quilômetro chegava a 12 anos. Os que não aceitavam esperar topavam pagar mais caro por um exemplar usado.
Quando encontrou a Alemanha Ocidental, o Trabant (que em alemão significa "satélite") chegou a receber um motor mais moderno, de 1,1 litro, emprestado do VW Polo. Mas já não fazia sentido um modelo com aquelas características, e em 30 de abril de 1991 o último exemplar saiu da linha de produção após pouco mais de 3 milhões de unidades produzidas.
Hoje o Trabant tem outro significado. Não é mais um veículo rigorosamente funcional, mas um item de coleção. Raríssimo no Brasil, é popular na Europa, onde centenas de clubes dedicados ao modelo organizam encontros para manter sua história viva.
Em tempo: o jornalista Flavio Gomes acaba de lançar "Gerd, der Trabi" . "O livro conta a história da amizade entre um homem, eu, e um carrinho de plástico, Gerd. Já se vão dez anos da nossa viagem pelo Leste Europeu e a ocasião é propícia para lembrar tudo que vivemos", explica o colecionador dono de dois Trabants: um na garagem e outro tatuado no braço.
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