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Mora nos Clássicos

Raro Citroën DS descansa no interior de SP após ser eleito o mais elegante

Rodrigo Mora

26/10/2019 08h00

(FRANCA, SP) – Este Citroën DS 23 Pallas só está aqui por causa de um amor à primeira vista que tomou Langelton Fernandes Tavares 65 anos atrás. Um tio acabara de comprar um Traction Avant 11 Légère, e do alto dos seus 5 anos, prometeu: "também terei um desses algum dia".

Depois de uma carreira vitoriosa, DS 23 Pallas descansa no interior de SP (Imagem: Rodrigo Mora)

Décadas mais tarde, adulto e com a vida feita, achou um igual àquele do tio. Bem, não tão igual assim. "Um restaurador aqui de Franca me disse que conhecia um, mas que estava largado num ferro-velho. Câmbio para um lado, motor para outro. Havia muito o que fazer no carro, mas mesmo assim o levei pra casa", conta o proprietário, que gostou tanto do Traction – agora restaurado e de volta à vida – que saiu em busca de outros Citroëns.

Os sonhos agora eram com um DS.

Revelado no Salão de Paris de 1955, o sucessor do Traction Avant recebeu 12 mil encomendas no primeiro dia de estreia. Foi um dos precursores dos conceitos de aerodinâmica, quando o tema ainda era vago. E o que dizer de um carro que, já naqueles tempos, tinha suspensão hidropneumática, capaz de manter a altura constante acima do chão com qualquer carga? Até hoje é considerado futurista e extraordinário.

Mas trata-se de um carro bem raro no Brasil. Um amigo de Langelton, ainda mais fissurado em carros da marca, o desencorajou. "Eu tiraria isso da cabeça, se fosse você", disse ao esperançoso Langelton, que relembra: "num belo dia, ele me liga e pergunta: 'ainda quer comprar um DS?' Tem um em Santos, mas ora o dono quer se livrar do carro, ora desiste da ideia'".

Versão é rara. Especialistas em Citroën falam em não mais de 10 desses no Brasil (Imagem: divulgação)

Mas um dia o tal dono do DS que morava em Santos topou, enfim, passar o veículo adiante. E lá foi Langelton buscá-lo, levando dois amigos.

No encontro com o DS, o que para os amigos foram o prenúncio de uma enrascada, para Langelton foi mais uma paixão desabrochada. "O carro estava sujo, amassado, e meus amigos cochichavam no meu ouvido pra eu pular fora", conta.

Ignorando os conselhos dos amigos, perguntou onde poderia contratar um guincho para levar o DS embora. "Guincho nada. Monta no carro e vai. Se ele te deixar na mão, rasgo seu cheque", ouviu do dono. E foi. E chegou em casa, agora fascinado não apenas pelo estilo do carro – assinado por Flaminio Bertone, que para a Citroën já havia desenhado o próprio Traction e o 2CV -, mas também pela maciez da suspensão hidropneumática, pelo vívido motor 2.3 (130 cv) e pelo interior tão futurista quanto o exterior, com direito a volante de um raio e bancos extremamente confortáveis.

(Imagem: divulgação)

Novamente, Langelton se via restaurando um Citroën, tarefa que não é das mais simples. Mas a recompensa não tardou. A primeira viagem do DS foi para Águas de Lindóia, e não deu outra: levou um dos prêmios de destaque do evento, que considera o contexto histórico, o nível de originalidade e o estado de conservação do veículo. E repetiu o feito em 2009.

Hoje ele repousa na garagem. Desfila pelas pacatas ruas de Franca de vez em quando, para encontros locais de carro antigo. Só para relembrar os velhos tempos de celebridade.

Lançado em 2018, o Citroën C4 Cactus foi eleito "Melhor SUV Nacional" no Prêmio UOL Carros. Modelo parte de R$ 71.090 na versão Live. No caminho até o encontro com o DS, a versão Feel garantiu uma viagem sem cansaço, boa ergonomia e um sistema multimídia fácil de operar. E o motor 1.6 aspirado foi econômico, registrando média de 13 km/l. Só não espere dele um desempenho emocionante. 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.