Restauradores focam em marca e até em década, mas sofrem com mão de obra
(SÃO PAULO) – De acordo com a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), R$ 400 milhões são movimentados "com compra e venda, peças e serviços para manutenção, preservação e restauração de veículos antigos". O problema é que o levantamento está defasado em quatro anos. A entidade admite ser incapaz de viabilizar uma pesquisa mais profunda e frequente.
Mas trata-se de um mercado volumoso, ainda assim. Tão grande que acomoda pequenos, médios e grandes restauradores. Alguns são generalistas, outros se especializaram em uma marca, uma nacionalidade ou até mesmo uma década.
A Auto90 começou com seu proprietário, Denivan Vargas, restaurando seus próprios carros, que chegaram a formar uma coleção de 70 modelos – todos eles sinônimos dos anos 1990, como Chevrolet Omega, Ford Escort XR3, Gol GTi e Chevrolet Kadett GSi, entre outros. Fundada em 2015, a oficina já fez mais de 50 carros, que exigiram investimento de R$ 15 mil a R$ 60 mil. Os valores dependem do estado em que chegam a Auto90 e do estado em que seus donos querem que saiam de lá.

Kadett 1996 na reta final da restauração (Imagem: Auto90/divulgação)
Especializar-se em uma marca é algo que a A.M. Marcelo faz há 15 anos. Sua história começa em 1976 como uma simples oficina mecânica que, já na década seguinte, virou credenciada Mercedes-Benz.
Matteo Petriccione Júnior – que hoje comanda a empresa fundada pelo pai – percebeu que os concorrentes aos poucos largavam os clientes mais antigos, seja por falta de peças ou de interesse. Abriu-se então para a A.M. Marcelo o mercado de restauração, que em 2018 respondeu por 20% do faturamento da empresa. Convertendo em cifras, foram R$ 800 mil vindos de clientes que desejavam ver seus 190E, 280 SL e demais como zero-quilômetro novamente.
"Já cheguei a escutar do pessoal da Mercedes que éramos um mal necessário, porque ninguém atendia os clientes que buscavam reparos e reformas de modelos mais antigos", relembra Petriccione, que contabiliza cinco restaurações completas por ano, em média.

Processo de restauração mais profundo exige desmonte do veículo (Imagem: A.M. Marcelo/divulgação)
Um dos projetos mais recentes, uma "Pagoda" 1971, consumiu R$ 350 mil de mão de obra e mais R$ 500 mil em peças. Tais valores não espantam a clientela, contudo: "temos uns dois ou três carros na fila, que só pegaremos no final do ano", revela o empresário.
Já com Eduardo Lambiasi foi diferente: a paixão por carros ingleses se transformou em negócio. Fundada em 1983, a R&E, sua oficina, já restaurou mais de 100 exemplares. "No começo, nos especializamos em MGs e outros modelos ingleses. Com o tempo e as limitações do mercado, fomos diversificando e hoje trabalhamos com todas as marcas e modelos. O meu interesse único é a originalidade, procuro não fazer adaptações e nem trabalhar com réplicas", explica.
Lambiasi acha que buscar informações sobre o modelo a restaurar não é mais problema nos tempos atuais, por causa da internet. O problema é encontrar peças: "o grande desafio é restaurar um carro com componentes originais da época e sem adaptações ou materiais de baixa qualidade".
Outro enrosco é achar e manter profissionais competentes e comprometidos. "Hoje temos oito funcionários nas várias especialidades, nos bons tempos chegamos a ter o dobro disso", relembra.
É a mesma realidade de Leonardo Forestieri, que dirige a 455 Garage. "Me parece que a maioria não está interessada em carro antigo, pois os novos dão menos trabalho e as concessionárias ou seguradoras pagam melhor", lamenta o empresário. Ao contrário dos colegas, Foirestieri encara de tudo. "Além do desafio de restaurar carros que nunca fiz, não focar num modelo ou década me previne de ficar sem trabalho", justifica o dono da 455 Garage, que em 2018 restaurou 10 carros e reformou mais de 15.
O problema da mão de obra também atormenta o pessoal da A.M. Marcelo: "esse é um ofício que não se aprende sem vontade. Quando perco um funcionário antigo, é muito difícil repor. Por isso que 60% das restauradoras fecharam, porque não tem mão de obra", complementa Petriccione.
Por outro lado, a depender da Escola de Restauração do Clube do Carro Antigo, mais profissionais bem formados estarão no mercado. Em sete anos de atividade, já atendeu 240 pessoas pelo programa Jovem Restaurador, tendo encaminhado 80% para o mercado de trabalho. Muitos deles, segundo a entidade, com carros premiados em encontros como Águas de Lindóia e Araxá, os principais do país.
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