Carro popular que quebrou regras e virou ícone cultural, Mini faz 60 anos
(SÃO PAULO) – Há exatos 60 anos, nascia um dos carros mais revolucionários da indústria automotiva. Seus criadores – Sir Leonard Lord, executivo da BMC que o encomendou, e Alexander Arnold Constantine Issigonis, o engenheiro e designer que o projetou – planejavam apenas um carro compacto moderno, prático e barato. Mas o Mini foi além: bem-sucedido enquanto inovação tecnológica e mercadológica, acabou virando também ícone cultural e lenda do automobilismo.
Como o VW Fusca e o Citroën 2CV – apenas para citar outros modelos longevos –, o Mini é fruto de um contexto político e social. A Inglaterra dos anos 1950 ainda se recuperava dos esforços empenhados na Segunda Guerra Mundial, e portanto não havia recursos para modelos genuinamente novos e a compra de automóveis era controlada.
Então, o que os ingleses podiam comprar eram modelos do pré-guerra reconstruídos, geralmente obsoletos, ou os chamados "carros bolha", como o Heinkel Kabine e os Iso, BMW e Romi Isetta. Quando Sir Leonard Lord definiu as diretrizes do Mini, a ordem era fazer um carro pequeno, mas em hipótese alguma um "carro bolha".
Outro fator determinante para a existência do Mini foi a crise do Canal de Suez, no Egito. Com o bloqueio desta ligação marítima entre a Europa e a Ásia, insumos do petróleo chegavam ao Velho Continente dando a volta pelo Cabo da Boa Esperança, aumentando o tempo de viagem e diminuindo a oferta da gasolina, que então voltou a ser racionada na Inglaterra. Um carro econômico não resolveria o imbróglio político, mas aliviaria a escassez no cotidiano inglês.
Morris Mini-Minor, Austin Seven
Pensado, projetado e desenvolvido num intervalo excepcional de dois anos, o modelo foi lançado oficialmente em 26 de agosto de 1959 em duas "versões": Austin Seven e Morris Mini-Minor. As duas marcas trilharam histórias distintas – a Morris foi fundada em 1919, 14 anos depois da Austin – até 1951, quando se fundiram sob o conglomerado British Motor Corporation.
A diretrizes do projeto foram fielmente atendidas: espaço interno para quatro adultos, dimensões externas compactas, economia de combustível e preço acessível. Em outras palavras, o Mini media 3,05 metros, era equipado com um motor de 848 cc de 35 cv e custava a partir de £ 497.
Ironicamente, o Mini não atingiu o público que mirava. A classe trabalhadora que deveria comprar aquele modelo econômico, barato e de desenho incomum não queriam justamente um modelo econômico, barato e de desenho incomum. Para esses compradores, o Mini não entregava status de modelos maiores. E se era para ser um automóvel popular, ele deveria parecer como tal.
A consequência lógica da rejeição se refletiu nas vendas: foram pouco mais de 116 mil emplacamento no primeiro ano, muito aquém das expectativas dos executivos da BMC – e do potencial do veículo.
Contudo, se a classe média não entendeu o Mini, os mais abastados, sim. Logo o Mini caiu nas graças de celebridades, artistas, roqueiros e gente "cool" da época. A lista de famosos ao volante de um Mini incluía todos os Beatles, o ator e piloto Steve McQueen e a Princesa Grace de Mônaco, entre outros. Foi a virada de mesa do Mini: no fim do anos 1960, mais de dois milhões deles estavam nas ruas e as vendas anuais chegavam a 250 mil unidades.
Nos anos seguintes, o Mini foi construindo família com os modelos Moke, Traveller, Clubman e Countryman, além de passar por customizações e ganhar edições especiais. Nada se comparou, porém, ao sucesso dos modelos criados pelo projetista de carros de corrida John Cooper.
Os primeiros Mini Coopers surgiram em setembro de 1961 oferecendo desempenho notavelmente superior ao do modelo básico. O motor projetado por Cooper saltava de 848 cc para 997 cc e de 35 para 56 cv, esticando a velocidade máxima de 116 km/h para 141 km/h. E a aceleração até os 100 km/h não tomava mais 30 segundos da vida do ingleses, mas sim 18 segundos. Mudanças no câmbio, agora mais curto, além de suspensões recalibradas e freios redimensionados deram ao outrora urbano e pacato Mini um espírito esportivo.
O que levou o modelo mergulhar nas competições ainda nos anos 1960. Não apenas nas de pista, como o Campeonato Britânico de Turismo, mas também num ambiente ainda mais incompatível com um carro como ele, os ralis – sobretudo o de Monte Carlo, dominado pelo Mini Cooper.
O Mini atravessou as décadas de 1970, 1980 e 1990 com sutis atualizações estéticas e mais incisivas mudanças mecânicas – essas sobretudo para atender normas de segurança e emissões de poluentes cada vez mais rígidas.
Mas nada que transformasse seu conceito original, mantido até outubro de 2000, quando o último Mini clássico saiu da linha de produção em Longbridge, na Inglaterra, 41 anos após o primeiro exemplar.
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