Porsche 718 Spyder honra história de 66 anos com receita purista e 420 cv
(EDIMBURGO) – Na saída do test-drive, um 718 Spyder prata com interior bordô nos aguarda ao lado de um engenheiro da Porsche. Ele está ali para nos ensinar como baixar a capota que, ao contrário do Boxster, não é acionada ao simples toque de um botão no console central. Trata-se de um movimento predominantemente manual, que inclui destravar duas tampinhas laterais, abrir o compartimento do porta-malas, encaixar o teto ali, fechar e depois travar as laterais. Nada prático, porém nostálgico.
Porque em algum nível isso remete ao 550 Spyder, primeiro carro da Porsche desenhado especialmente para corridas (em circuitos, subidas de montanhas ou nas ruas). Revelado durante o Salão de Paris de 1953, teve raros exemplares com capota removível, que demandavam um trabalho manual – tais comodidades elétricas não existiam naqueles tempos.
Seu legado nas pistas é extenso, com vitórias em Nurbürgring, Targa Florio e Le Mans. Mas sua fama veio após o acidente fatal de James Dean, em 30 de setembro de 1955. O ator bancava o piloto nas horas vagas e seguia para um final de semana de corrida no circuito de Salinas. Para se familiarizar com as ariscas reações do esportivo que acabara de comprar, Dean foi rodando até o destino. Quando um Ford Tudor atravessou a pistas, Dean até tentou desviar, mas bateu seu 550 Spyder prateado (a maioria era prata) de frente com o outro carro e morreu a caminho do hospital.
Menos famoso, mas igualmente vitorioso foi seu sucessor, o 718 RS 60 Spyder, vencedor de Targa Florio, 12 Horas de Sebring e dominante nas corridas de subida de montanha entre 1963 e 1964 com a versão W-RS, com seu 2.0 V8. Sem falar nos demais "Spyder" vencedores, como o 908/02 Spyder (1969), o 908/03 Spyder (1970), o 936/81 Spyder (1981) e o 917/30 Spyder (1973), de incríveis 1.200 cv. Percebe o tamanho da responsabilidade do 718 Spyder?
Desbravando a Escócia
Assim como o 718, o 550 Spyder tinha um motor central. No caso, um quatro-cilindros de 1,5 litros e 110 cv, que chegaria a 135 cv no derradeiro modelo, de 1956. O princípio de equilibrar melhor a distribuição de peso é o mesmo, mas há um abismo entre ambos. O 718 Spyder carrega um 4.0 seis-cilindros, de 420 cv e 42,8 kgfm de torque, administrado por um câmbio manual de seis marchas. Sua origem é o 3.0 seis-cilindros do 911 atual, mas dispensa o turbo e ganha virabrequim forjado de alta resistência, novos cabeçotes e um sistema de válvulas que permite ao motor girar até 8.000 rpm.
E não é só isso que faz do 718 Spyder um carro para as pistas, como seu sexagenário antecessor. Eixo dianteiro, amortecedores traseiros invertidos e subchassi traseiro foram emprestados do 911 GT3, que reina como um dos mais puros e cobiçados esportivos da Porsche atualmente. Há também um difusor entre as saídas do escapamento que gera 50% do downforce no eixo traseiro – aliado a um spoiler que levanta automaticamente depois dos 120 km/h.
Se o test-drive tivesse sido na Alemanha, onde parte das estradas não têm limite de velocidade, tentaria comprovar se o 718 Spyder chega mesmo aos 301 km/h de velocidade máxima. Mas, nas estradas sinuosas da Escócia, deu pra sentir o que é ser arremessado até os 100 km/h em 4,4 segundos. Ou como o câmbio manual de seis marchas é curto e preciso e a direção é comunicativa – e revestida em Alcantara, pra absorver o suor das mãos. A suspensão copia tudo o que acontece no chão e é de se imaginar que aqui no Brasil haverá sofrimento para os pneus (245/35 ZR20 na frente e 295/30 ZR20 atrás) com ruas tão remendadas.
No interior, o rádio parece ser um intruso. Há versões que abrem mão dele e do ar-condicionado, pra poupar 4,5 kg no peso do carro. Mas o que não foi dispensado ali é o acabamento esmerado, os materiais de alta qualidade e a posição de guiar perfeita.
Sua estreia no Brasil está prevista para o primeiro semestre do próximo ano, por algo entre R$ 500 mil e R$ 600 mil. Nisso o 718 Spyder também está distante do 550 Spyder: em 2018, um desses foi leiloado e arrematado por US$ 5,17 milhões, ou R$ 19,33 milhões – se tornando um dos Porsches mais caros do mundo.
Viagem feita a convite da Porsche do Brasil.
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