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Mora nos Clássicos

Porsche 718 Spyder honra história de 66 anos com receita purista e 420 cv

Rodrigo Mora

22/07/2019 07h00

(EDIMBURGO) – Na saída do test-drive, um 718 Spyder prata com interior bordô nos aguarda ao lado de um engenheiro da Porsche. Ele está ali para nos ensinar como baixar a capota que, ao contrário do Boxster, não é acionada ao simples toque de um botão no console central. Trata-se de um movimento predominantemente manual, que inclui destravar duas tampinhas laterais, abrir o compartimento do porta-malas, encaixar o teto ali, fechar e depois travar as laterais. Nada prático, porém nostálgico.

Porsche 718 Spyder (Imagem: Rodrigo Mora)

Porque em algum nível isso remete ao 550 Spyder, primeiro carro da Porsche desenhado especialmente para corridas (em circuitos, subidas de montanhas ou nas ruas). Revelado durante o Salão de Paris de 1953, teve raros exemplares com capota removível, que demandavam um trabalho manual – tais comodidades elétricas não existiam naqueles tempos.

Porsche 550 Spyder (Imagem: Bonhams/divulgação)

Seu legado nas pistas é extenso, com vitórias em Nurbürgring, Targa Florio e Le Mans. Mas sua fama veio após o acidente fatal de James Dean, em 30 de setembro de 1955. O ator bancava o piloto nas horas vagas e seguia para um final de semana de corrida no circuito de Salinas. Para se familiarizar com as ariscas reações do esportivo que acabara de comprar, Dean foi rodando até o destino. Quando um Ford Tudor atravessou a pistas, Dean até tentou desviar, mas bateu seu 550 Spyder prateado (a maioria era prata) de frente com o outro carro e morreu a caminho do hospital.

Menos famoso, mas igualmente vitorioso foi seu sucessor, o 718 RS 60 Spyder, vencedor de Targa Florio, 12 Horas de Sebring e dominante nas corridas de subida de montanha entre 1963 e 1964 com a versão W-RS, com seu 2.0 V8. Sem falar nos demais "Spyder" vencedores, como o 908/02 Spyder (1969), o 908/03 Spyder (1970), o 936/81 Spyder (1981) e o 917/30 Spyder (1973), de incríveis 1.200 cv. Percebe o tamanho da responsabilidade do 718 Spyder? 

(Imagem: divulgação)

Desbravando a Escócia

Assim como o 718, o 550 Spyder tinha um motor central. No caso, um quatro-cilindros de 1,5 litros e 110 cv, que chegaria a 135 cv no derradeiro modelo, de 1956. O princípio de equilibrar melhor a distribuição de peso é o mesmo, mas há um abismo entre ambos. O 718 Spyder carrega um 4.0 seis-cilindros, de 420 cv e 42,8 kgfm de torque, administrado por um câmbio manual de seis marchas. Sua origem é o 3.0 seis-cilindros do 911 atual, mas dispensa o turbo e ganha virabrequim forjado de alta resistência, novos cabeçotes e um sistema de válvulas que permite ao motor girar até 8.000 rpm.

E não é só isso que faz do 718 Spyder um carro para as pistas, como seu sexagenário antecessor. Eixo dianteiro, amortecedores traseiros invertidos e subchassi traseiro foram emprestados do 911 GT3, que reina como um dos mais puros e cobiçados esportivos da Porsche atualmente. Há também um difusor entre as saídas do escapamento que gera 50% do downforce no eixo traseiro – aliado a um spoiler que levanta automaticamente depois dos 120 km/h.  

(Imagem: Rodrigo Mora)

Se o test-drive tivesse sido na Alemanha, onde parte das estradas não têm limite de velocidade, tentaria comprovar se o 718 Spyder chega mesmo aos 301 km/h de velocidade máxima. Mas, nas estradas sinuosas da Escócia, deu pra sentir o que é ser arremessado até os 100 km/h em 4,4 segundos. Ou como o câmbio manual de seis marchas é curto e preciso e a direção é comunicativa – e revestida em Alcantara, pra absorver o suor das mãos. A suspensão copia tudo o que acontece no chão e é de se imaginar que aqui no Brasil haverá sofrimento para os pneus (245/35 ZR20 na frente e 295/30 ZR20 atrás) com ruas tão remendadas.

(Imagem: divulgação)

No interior, o rádio parece ser um intruso. Há versões que abrem mão dele e do ar-condicionado, pra poupar 4,5 kg no peso do carro. Mas o que não foi dispensado ali é o acabamento esmerado, os materiais de alta qualidade e a posição de guiar perfeita.

Sua estreia no Brasil está prevista para o primeiro semestre do próximo ano, por algo entre R$ 500 mil e R$ 600 mil. Nisso o 718 Spyder também está distante do 550 Spyder: em 2018, um desses foi leiloado e arrematado por US$ 5,17 milhões, ou R$ 19,33 milhões – se tornando um dos Porsches mais caros do mundo

Viagem feita a convite da Porsche do Brasil. 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.