Goodwood ama carros que queimam combustível, mas cresce olho nos elétricos
(GOODWOOD) – Quando o ex-piloto de Fórmula 1 Nick Heidfeld e seu McLaren MP4/13 cravaram 41,18 segundos para completar o percurso de Goodwood, em 1999, poucos apostariam que este recorde seria batido por um carro elétrico. Pois um Volkswagen ID.R, pilotado pelo bicampeão das 24 Horas de Le Mans Romain Dumas, rasgou os mesmos 1,86 quilômetros em 39,90 segundos no último final de semana.
A explicação para a diferença de 1,7 segundos – que equivale a uma semana no mundo do automobilismo – está menos nas mãos dos pilotos e mais na concepção dos carros. O Fórmula 1 (campeão mundial com o finlandês Mika Häkkinen) tem um motor V10 a gasolina, de 780 cv, tração traseira e 600 kg, contando com o piloto.
Já o ID.R gera 680 cv para empurrar "menos de 1.000 kg", segundo a Volkswagen. Mas tem dois trunfos: o torque instantâneo típico dos modelos elétricos e o fato de haver um motor em cada eixo – é um tração integral, portanto. Diferenças técnicas à parte, fato é que Goodwood deixa de ser um reduto de queimadores de combustível fóssil e abre mais espaço para a irreversível mobilidade elétrica.
"O festival de Goodwood é uma fascinante ponte entre o passado, presente e futuro do automóvel", resume Dr. Frank Welsch, membro do Conselho de Administração da Volkswagen.
Na essência, o Goodwood Festival of Speed é uma reunião de apaixonados por automobilismo. Foi por isso que ele nasceu, em 19 de junho de 1993, quando Charles Gordon-Lennox, Duque de Richmond, ressuscitou um circuito criado em 1948 e há muito tempo desativado – praticamente no quintal de sua prioridade.
A atração principal é um sinuoso trecho de 1,86 quilômetros de extensão, pelo qual passa todo tipo de carro que já fez história nas pistas, Lancia Delta S4, Mercedes-Benz "Flecha de Prata", Audi Sport Quattro S1, Porsche 935/78 "Moby Dick"…
Entusiastas de plantão não devem temer, pois: Goodwood continuará sendo uma ode ao passado do automobilismo. Um modelo elétrico pode ser o recordista da pista, mas o que o visitante que pagou até R$ 795 por quatro dias de ingresso quer ver é Emerson Fittipaldi ao volante de sua Lotus 1972, Riccardo Patrese desfilando com a Benetton-Ford B193 de Michael Schumacher (um dos grandes homenageados desta edição, aliás) ou Rubens Barrichello revivendo os tempos da Brawn GP.
Mesmo quando querem apresentar um carro do futuro, as marcas recorrem ao passado – sendo a Porsche um dos protagonistas nesse sentido. Nada menos do que cinco unidades do lendário 917 se alinharam em Goodwood. Outros monstros das pistas que deram as caras no evento inglês foram o 935 em sua versão atualizada e o 911 RSR com sua tradicional pintura da Martini Racing. Este também tem uma versão nova, que debutou em Goodwood e estreará a valer na temporada 2019/2020 do World Endurance Championship.
Mas se a passagem de todos eles era anunciada a metros de distância por seus motores de seis ou doze cilindros, o Taycan atravessou Goodwood sonoramente discreto: dele ouvia-se apenas um zunido inerente dos motores elétricos. Quem estava no celular ou de olho no telão, ainda se refestelando na nostalgia do 917 ou do 911 RSR, quase perdeu o principal lançamento da Porsche do ano – previsto para o Brasil em 2020, passará de R$ 1 milhão.
Na Jaguar, o elétrico I-Pace eTrophy pôde ser visto fora de seu habitat natural, os circuitos de rua que abrem as corridas da Fórmula-E. Mas logo foi seguido pelo XE SV Project 8 e seu glutão V8 Supercharged de 600 cv. Até a Volvo, um tanto longe das pistas atualmente, aproveitou o evento para mostrar o Polestar 2, rival do Tesla Model 3. E quem chegava ao estande da Citroën procurando pelo futurista 19_19, era recebido por um par de clássicos.
No fim das contas, Goodwood é um banquete automotivo, talvez a máxima reverência ao carro e à velocidade, independente da plataforma de propulsão. Que, se for elétrica, também é legal.
O importante é estar em Goodwood.
Viagem feita a convite da Porsche do Brasil.
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