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Mora nos Clássicos

Vai comprar um antigo? Guia básico parte 2: questões mecânicas e estéticas

Rodrigo Mora

08/04/2019 07h00

(SÃO PAULO) – Depois de escolher seu carro antigo, é hora de checar se esta tubo bem estética e mecanicamente.

É óbvio dizer isso, mas analise o carro seco e sob a luz natural do dia. Aquele movimento de se abaixar rente à lateral do carro não é firula: assim dá pra encontrar mais facilmente ondulações na carroceria, desalinhamento das portas, manchas na pintura ou, no pior dos casos, pontos de ferrugem nascendo.

Esse é o momento para caçar sinais de repintura, como o excesso de pulverização sob as caixas de rodas ou até mesmo nos pneus, nos componentes do escapamento, na suspensão, nas borrachas da janela e cobrindo adesivos de fábrica. Um carro recentemente pintado terá o interior cheirando como tal.

Atenção: frisos, plaquetas de marca e modelo, calotas e detalhes afins são cada vez mais difíceis de achar (e caros, quando há). Portanto, se a ideia é manter a originalidade intacta e buscar um certificado de carro de coleção, é bom que o seu futuro clássico esteja até com essas perfumarias em dia.

Faróis e lanternas também merecem atenção. Não apenas por conta de rachaduras e infiltrações, mas também à originalidade – esse tipo de componente é cada vez mais raro, dependendo do modelo.

Motor e câmbio

Primeira dica é analisar o motor frio. Você pode inclusive pedir que o vendedor não ligue o carro até você chegar – caso contrário, pode perder um eventual problema no motor de arranque ou na partida a frio.

O mais importante aqui é checar se não há vazamento de fluidos. E, se o motor estiver quente e houver algum escorrimento, esse líquido pode te machucar.

Gotejamentos são sinal de problema: suas fontes são diversas e, na pior das hipóteses, você terá que refazer o motor. Cuidado com mangueiras duras e ressecadas, pois é o contrário: eles devem ser flexíveis macias.

Com o motor ainda frio, verifique o interior da tampa de enchimento de óleo e a tampa do sistema de líquido de arrefecimento. Se houver uma substância branca, geralmente comparada à maionese, é provável que o óleo e a água estejam se misturando em algum lugar, geralmente devido a uma junta da cabeça do cilindro queimada. Isso é uma má notícia.

Verifique o óleo na vareta. Mesmo fresco parecerá sujo muito rapidamente, então não se preocupe se for preto – mas se preocupe se estiver baixo, especialmente se estiver abaixo da marca indicada na vareta.

Independente da idade, a ignição de um clássico deve responder na hora. Quando o motor estiver aquecido, acelere e certifique-se de que ele responde sem hesitação. Em seguida, peça ao dono para fazer o mesmo enquanto observa a fumaça do escapamento. Se a fumaça for azul, agradeça o vendedor e vá embora, porque tem óleo vazando.

Suspensão e freios

Os freios não devem deixar vestígios de fluido em lugar algum. Sob o carro, observe o interior dos aros das rodas em busca de vestígios, em torno dos componentes do freio e em todos os canos do freio e juntas da mangueira.

Olhe também para discos de freio marcados ou enferrujados. Eles devem estar lisos. Verifique a espessura das pastilhas de freio – se você conseguir chegar até elas, verá que cada uma delas tem um suporte de metal e uma camada de material de fricção. O material de atrito deve ser pelo menos tão grosso quanto o suporte de metal.

Sob o capô, verifique o nível do fluido de freio em seu reservatório. Se o nível estiver baixo, pode haver um vazamento no sistema em algum lugar.

Ainda sob o carro, procure por molas helicoidais quebradas. Também faça o teste de simular uma lombada ou valeta, forçando os quatro cantos do carro para baixo. Ele deve cessar o movimento depois de um alto e meio – mais que isso significa que o amortecedor já era. 

Dirigir o veículo antes da compra é fundamental. É quando você poderá detectar o peso exagerado da embreagem, engates das marchas (e se elas desengatam involuntariamente), se todos os mostradores estão funcionando, se a direção tem o peso e as reações que deveria, ou se está puxando para um dos lados.

E o mais importante: você gostou de dirigir o carro dos seus sonhos?

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.