Como foi correr (e chegar em sétimo) na Copa Paulista de Rallye Histórico
(SÃO PAULO) – Em frente ao Theatro Municipal colando os adesivos com o número 5 nas portas da Kombi, óculos embaçados e pés encharcados em pleno sábado de manhã, me perguntei onde estava com a cabeça. Dali a poucos minutos largaria, sob forte garoa, para a primeira etapa da Copa Paulista de Rallye Histórico, mas o normal seria estar na cama, me virando para o outro lado e engatando mais algumas horas de sono.
Esse é o mal do carro antigo: quando chega um convite para encontrar amigos e dirigir algo que tenha mais tempo de vida que nós, não recusamos.
Pronto, adesivos colados. Hora de me ajeitar ao volante da primeira Kombi da minha vida. Largamos, eu e meu "navegador" (só botando sob aspas o cargo de um cara que fez a gente se perder já na primeira entrada à direita; melhor continuar cuidando só do Miau) pontualmente às 9h05. E dá-lhe chuva. Fora e dentro do carro, pois o para-brisa do tipo "safari" já não tinha a mesma vedação da juventude.
A intimidade com a Kombi veio aos poucos. Na estrada, entramos num acordo aos 80 km/h – confortável pra ela, conveniente pra mim. Pudera, pois os 100 km/h nunca pareceram tão atrevidos. Só achava estranho carros que largaram depois nos ultrapassando. Certamente eles, e não nós, erraram nos cálculos da planilha, pensei.
Na primeira parada para abastecer, o confronto com a crueza da realidade: o navegador de um belíssimo Mini Cooper tinha, além da planilha eletrônica que todos receberam, outra "manual", além de dois cronômetros extras. Sonhos com um podiozinho desmoronaram ali.
Mas nem tudo estava perdido. Dirigir uma Kombi é desconfortável, não vou mentir, mas é igualmente divertido e único. É uma das mais genuínas relações homem-máquina, porque não há muito mais com o que lidar além do volante na horizontal e com folga, do câmbio de engates preciso e o giro do motor (1.500 cc, no caso). Nada de central multimídia, piloto automático ou quaisquer alertas de carros frescos. Aqui é raiz.
Quem nunca foi ao Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas, nosso ponto final desse rali de regularidade, deve ir com um lenço no bolso. Criado em 1963 por Roberto Lee, um dos pioneiros do antigomobilismo brasileiro, o museu chegou a ter 97 veículos. Entre eles, um dos 51 Tucker Torpedo 1948. Contudo, imbróglios familiares e falta de verba dificultaram a vida do museu que, abandonado, teve grande parte de seu acervo sucateada.
Quanto ao resultado, ficamos na sétima colocação. Seria ótimo se fosse no ranking geral, somando todos os 52 carros participantes. Mas foi apenas na nossa categoria, "Era do Rock", que reuniu 12 veículos. Na geral, 27o. Paciência. Dia 11 de maio tem mais.
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