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Mora nos Clássicos

Defender, Discovery e Range Rover dominam história da setentona Land Rover

Rodrigo Mora

22/12/2018 08h00

(SÃO PAULO) – Fundada em 1878, a Rover foi uma fabricante inglesa que começou fazendo bicicletas, passou por motocicletas e depois se concentrou em carros. Fez até um elétrico, em 1888, que não passou de um protótipo. O primeiro automóvel de produção, o Rover 8HP, veio em 1904. Partindo de £ 200, se tornou o carro mais vendido da Inglaterra.

No começo dos anos 1930, os irmãos Spencer Wilks (1891-1971) e Maurice Wilks (1904–1963) chegaram à Rover como, respectivamente, diretor geral e engenheiro-chefe, e se tornaram personagens principais na história da companhia britânica.

Maurice usava um Willys Jeep em sua propriedade na ilha de Anglesey, no País de Gales, mas sentia falta de um carro mais versátil. Que, como seu Jeep, pudesse chegar aonde os outros não chegavam, mas que também fosse um veículo amigável no uso "social". Em 1947, os dois irmão caminhavam pela praia de Red Wharf Bay e Maurice desenhou, na areia, como deveria ser esse veículo.

Desenho feito na areia, em 2015, para relembrar como Maurice Wilks imaginava um 4×4 da Rover e abrir o ano de despedida do Defender, que nasceu como Série 1, em 1948 (Imagem: divulgação)

O resto é história, que resumida fica assim: 

1948 – Início da produção do Série 1 em Solihull. Como naquele pós-guerra a Inglaterra sofria com a escassez de aço, o jeito foi recorrer à fartura do alumínio para a carroceria. Os 48 primeiros foram pintados do mesmo tom de verde do interior dos aviões de guerra Spitfire, que era a única cor disponível. Motor a gasolina de 1.595 cc, câmbio de quatro marchas do Rover P3 e uma caixa extra com duas marchas para situações adversas de tração. A estreia mundial ocorre no Salão de Amsterdã, em 30 de abril. Com ele nasce a marca Land Rover, uma espécie de divisão 4×4 da Rover. 

(Imagem: divulgação)

1953  A versão de entre-eixos alongado é apresentada.

1958 – O Série 2 traz visual retocado e atualizações na gama de motores, que ganha a opção de um diesel.

(Imagem: divulgação)

1966 – 500 mil Land Rovers são produzidos. O segundo modelo da marca, Range Rover, começa sua história com a construção do primeiro protótipo, chamado internamente de "100-inch station wagon" –  a medida, correspondente a 2,54 metros, se referia à distância entre-eixos.

1970 – Durante o Salão de Londres, nasce o Range Rover, que pretendia seguir a fórmula do Série 1, porém com interior mais refinado e mais potência, graças a um V8 em alumínio, de 135 cv. "A ideia era combinar o conforto e a fluidez no asfalto de um sedã Rover à habilidade fora de estrada de um Land Rover. Ninguém estava fazendo isso", explica Charles Spencer 'Spen' King, o "pai" do modelo. Oferecia conforto, mas não luxo: painel de plástico, bancos em vinil e tapetes em borracha, que permitiam que o interior fosse lavado. O luxo veio mais tarde, na década de 80. 

(Imagem: divulgação)

1971 Lançamento do Série 3.

(Imagem: divulgação)

1972 – A Land Rover precisa provar ao mundo que o Range Rover era tão valente quanto o Série 1. E nada melhor do que extensas e desafiadoras expedições. A primeira delas foi fazer o que nenhum carro havia feito: completar os 28,8 mil quilômetros da Trans-Americas e atravessar o até então intransponível estreito de Darién, no Panamá. Em 1974, outra missão dada e cumprida foi percorrer, em 100 dias, 12 mil quilômetros no Deserto do Sahara. E adivinhem quem venceu o Paris-Dakar de 1979? 

(Imagem: divulgação)

1976  Land Rover chega ao patamar de 1 milhão de carros produzidos.

1981 – No mesmo ano em que começa a lendária parceria com a Camel Trophy, o Range Rover ganha carroceria de 4 portas e mais uma edição do Paris-Dakar. A transmissão automática chega em 1982 e a manual de cinco marchas no ano seguinte.

1989 – Depois de ganhar um motor a diesel, em 1986, o topo de linha da Land Rover se torna o primeiro 4×4 a ser equipado com ABS. Terceiro modelo da marca, o Discovery estreia como o meio-termo entre o tosco, mas eficiente e valente Série 3, e o luxuoso e grande Range Rover. Uma de suas missões também era fazer frente ao ataque dos SUVs japoneses. Seu motor era um 3.5 V8 (152 cv), mas também havia a opção de um turbodiesel de 2,5 litros. O interior era assinado pela Conran Design Group, o que lhe rendeu um prêmio da British Design Council Award.  

(Imagem: divulgação)

1990 – O Série 3 passa a se chamar Defender, oferecido nas versões 90, 110 e 130 e acompanhado de um novo motor 2.5 turbodiesel. 

1992  Ano de inovações para a gama Range Rover, que passa a contar com controle de tração, suspensão a ar com ajuste eletrônico e versão de entre-eixos alongado.

1993 – É fundada a Dunsfold Collection, considerada uma das maiores e mais importantes coleções de Land Rovers, hoje com 140 veículos – boa parte deles protótipos, como o mais antigo dos Discovery de pré-produção. 

(Imagem: divulgação)

1994 – Estreia da segunda geração do Range Rover, denominada P38a.

(Imagem: divulgação)

1996 – Após 317.615 unidades produzidas, chega ao fim a primeira geração do Range Rover, a essa altura carregando o sobrenome Classic. Por quase dois anos, as primeira e segunda fases do jipe coexistiram.

1997 – Land Rover apresenta o Freelander, seu quarto modelo. 

(Imagem: divulgação)

1998  Estreia do Discovery 2, agora equipado com um 2.5 de 5 cilindros.

(Imagem: divulgação)

2000  Ford compra a Land Rover.

2001 – Range Rover chega à terceira geração (L322) maior e mais luxuoso. 

(Imagem: divulgação)

2002 – Produção de Range Rover chega à marca de 500. mil veículos.  

2004  Discovery desembarca na terceira geração, com direito a suspensão independente e a ar.

2006  Segunda geração do Freelander estreia planta de Halewood.

2008  Então dona da Jaguar e da Land Rover, Ford vende as duas empresas britânicas para a indiana Tata, por £ 1,15 bilhão.

2010 – A gama Range Rover celebra 40 anos, com três gerações: Classic (1970 a 1996), P38a (1994 a 2001) e L322 (2002 a 2012). 

(Imagem: divulgação)

2011 – Em dezembro, o Castelo de Eastnor Castle, em Herefordshire, completa 50 anos como o centro de testes off-road da Land Rover.

2012 – O milionésimo Discovery produzido parte para uma jornada que começa em 29 de fevereiro, em Solihull (Inglaterrra), e termina em Beijing, na China, em 22 de abril. Ao longo de 50 dias, a Journey of Discovery percorreu 16 mil quilômetros e visitou 78 cidades.

(Imagem: divulgação)

A terceira geração do Range Rover completa dez anos com as edições especiais TDV8 Westminster, TDV8 Autobiography and Supercharged Autobiography.

2013 – Ao comemorar 65 anos, a Land Rover apresenta a versão LXV do Defender, com diferenciações estéticas e motor 2.2 diesel, de 122 cv e 36,7 kgfm de torque.

(Imagem: divulgação)

Sete Defenders com motor de 70kW e bateria de íon de lítio são construídos para pesquisa de eletrificação veicular.

2014 – Com mais de 1.000.000 de unidades vendidas, Discovery completa 25 anos com a versão XXV Special Edition

2015 – A Land Rover começa o ano reconstruindo a linha de produção usada na manufatura do Série 1, inaugurada em 1948. A réplica fazia parte da Defender Celebration Line e era aberta a visitas, reproduzindo vários estágios da produção. O cenário foi meticulosamente reconstruído com ferramental e aparelhos originais e pranchetas de desenho.

(Imagem: divulgação)

Durante a Techno Classica, tradicional evento de carros antigos em Essen, na Alemanha, a Land Rover lançou a divisão Heritage, destinada a amparar veículos fora de produção há mais de dez anos com serviços e peças originais.

"Estima-se que 70% dos Land Rovers fabricados desde 1948 ainda estão em uso, então há uma grande base de clientes para darmos suporte", explicou John Edwards, diretor da Jaguar Land Rover Special Operations, responsável pela divisão. São considerados Heritage os modelos Série 1, Série 2, Série 3, Range Rover Classic, Range Rover P38, Discovery 1 e Discovery 2.

Em dezembro, o segundo milionésimo Defender, produzido em maio, é arrematado por £ 400 mil (R$ 1,97 milhões) durante leilão da Bonhams, se tornando o Land Rover mais caro já leiloado.

(Imagem: Divulgação/Bonhams)

2016 – 28 de janeiro. Fábrica de Solihull, Inglaterra. O último Defender produzido se despede oficialmente, após 68 anos em atividade (soma-se aí os anos em que se chamava Series 1, 2 e 3). Setecentos atuais e ex-funcionários envolvidos na fabricação do modelo são convidados para a celebração. Entre eles a família Bickerton, que havia recém-chegado à quinta geração de funcionários da Land Rover.

(Imagem: divulgação)

Produzido entre 1997 e 2006, o Freelander 1 se torna o oitavo Land Rover Heritage. No caso desse modelo, são 9.000 peças disponíveis para reposição, segundo a empresa.

Novamente numa edição da Techno Classica, em abril, a fabricante britânica estreou o Reborn, programa que oferece a clientes selecionados clássicos da marca já restaurados, seguindo rigorosamente as especificações estéticas e de construção originais.

Depois de escolher qual versão do Série 1 deseja ter, o cliente opta por uma das cinco cores originais (Light Green, Bronze Green, RAF Blue, Dove Grey e Poppy Red) e na sequência pode acompanhar o processo de restauro – que ocorre dentro da fábrica do Defender, em Solihull, Inglaterra.

Em outubro, ao inaugurar sua academia de pilotagem no gelo, na Lapônia (Suécia), a marca não ficou com medinho de estragar carro antigo e incluiu na oferta de veículos alguns clássicos, como Série 1, Série 2 e Série 3 (além de um Jaguar XK150 e um MKII). Mas é bom avisar: clientes que participarem do curso vão aprender a lidar com modelos sem freios modernos, direção hidráulica ou controle de tração.

(Imagem: divulgação)

2017 – Durante o Rétromobile 2017, em Paris, a Land Rover apresentou o primeiro Range Rover Classic submetido ao Reborn. Fiel às características de nascença, esse modelo 1978 manteve a cor Bahama Gold e o motor 3.5 V8 (gasolina) de 134 cv e 25,6 kgfm de torque. Interessados devem separar £ 135 mil (R$ 664.200) para ter um Range Rover Classic com o selo Reborn na garagem.

(Imagem: divulgação)

2018 – No ano em que celebra 70 anos, a Land Rover surpreendeu o mundo automotivo ressuscitando o Defender, que voltou com um motor 5.0 V8 de 405 cv e 52 kgfm de torque, gerenciado por um câmbio automático de oito marchas da ZF – conjunto que o fez o Defender mais rápido da história, ao romper os 100 km/h em menos de seis segundos. Freios retrabalhados, suspensão mais firme, rodas exclusivas e decorações estéticas também fazem parte do pacote. Ao todo, foram apenas 150 unidades fabricadas, todas esgotadas em menos de um mês.

(Imagem: divulgação)

Também parte da celebração pelo septuagésimo aniversário, a marca criou o Classic Infotainment Systems, para reproduzir nos clássicos da marca a mesma experiência de áudio, navegação e conexão dos modelos modernos.

Ainda em 2018, encarou a restauração de um dos três Série 1 de pré-produção exibidos no Salão de Amsterdã, palco da estreia da marca, em 1948. Ninguém sabe o destino desse jipe depois do evento, mas descobriu-se que seus últimos passos foram dados nos anos 1960. E que depois disso ele ficou abandonado num campo por 20 anos, até ser comprado por alguém que planejava restaurá-lo.

(Imagem: divulgação)

Novamente esquecido, foi definhando num jardim a poucos quilômetros de Solihull, coincidentemente a cidade onde fora produzido décadas atrás. Enfim, foi resgatado pela Land Rover. Segundo Tim Hannig, diretor da Jaguar Land Rover Classic, "esse Land Rover é uma peça insubstituível da história automotiva mundial e é tão importante quanto o 'Huey', o primeiro Land Rover de pré-produção. Há algo encantador sobre o fato de que exatamente 70 anos atrás esse veículo teria sido submetido a seus ajustes finais antes de ser preparado para o Salão do Automóvel de Amsterdã, onde o mundo viu pela primeira vez o formato que agora é reconhecido imediatamente como um Land Rover".

A restauração será concluída no próximo ano.

(Imagem: divulgação)

 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.