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Mora nos Clássicos

Salão de Genebra: há 40 anos, Audi Quattro imortalizava a tração integral

Rodrigo Mora

04/03/2020 07h00

(SÃO PAULO) – Foi testando o Volkswagen Iltis para o exército alemão, durante o rigoroso inverno de 1976, que Jörg Bensinger notou que aquele utilitário 4×4 era mais rápido sobre o gelo e a neve do que seus similares mais potentes, porém com tração em apenas um dos eixos.

(Imagem: divulgação)

Um modelo de passeio também seria mais rápido com tração integral?, se perguntou Bensinger, então o engenheiro da Audi encarregado de afinar as suspensões. (Vale lembrar que desde 1964 a Volkswagen era dona da Auto Union, da qual a Audi emergira como principal marca; por isso não é de se entranhar o engenheiro de uma testando o carro da outra).

(Imagem: divulgação)

A ideia foi levada a Ferdinand Piëch, o chefão de engenharia naquele momento, que deu aval para o desenvolvimento. Não se tratava de criar um Land Rover alemão, mas sim um esportivo de alta performance mais dinâmico.

(Imagem: divulgação)

O primeiro protótipo nasceu em março de 1977 com plataforma e suspensões emprestados do Audi 80. Motor (um cinco-cilindros em linha, turbo, de 2.144 cc, que nele rendeu 200 cv e 28,5 kgfm de torque) veio do Audi 200, enquanto a carroceria foi aproveitada do 80 Coupé, que estava prestes a ser lançado. Em novembro daquele ano os testes começaram.

(Imagem: divulgação)

Quando a diretoria da empresa viu como aquele carro lidava com as mais íngremes travessias de montanha da Europa sem precisar de pneus especiais ou correntes para ganhar tração sobre o gelo, não hesitou em dar sinal verde para a produção. 

(Imagem: divulgação)

Compacto (4,4 m de comprimento e 2,52 m de entre-eixos) e veloz (0 a 100 km/h em 7,1 segundos e velocidade máxima de 220 km/h), o Quattro estreou no Salão de Genebra de 1980 – com direito a apresentação em uma pista de esqui construída ao lado do pavilhão. 

Estande da Audi no Salão de Genebra de 1980; lá fora, uma pista de esqui exibia os dotes da tração (Imagem: divulgação)

Portanto, 14 anos depois do Jensen FF, o primeiro carro de passeio com tração nas quatro rodas. E oito após a estreia do Subaru Leone 4WD Estate, o primeiro tração integral produzido em larga escala. Acontece que o FF era um modelo basicamente artesanal, cuja produção ficou em cerca de 320 unidades, e a peruinha japonesa parece ter esquecido de pôr seu nome na história.

A Audi pode não ter inventado a tração integral em carros e passeio, mas a partir daquele momento popularizou, redimensionou e imortalizou o sistema.

Quattro Sport

A partir de então, modelos da Audi com o emblema "quattro" se multiplicaram – hoje são mais de 10 milhões, segundo a Audi. 

Quattro Sport foi de 1984 a 1986 (Imagem: divulgação)

Talvez o mais cultuado seja o Quattro Sport, de 1984. Com entre-eixos 32 cm mais curto, carroceria feita em alumínio reforçada com fibra de vidro e Kevlar e motor de 306 cv, teve até 1986 apenas 214 unidades produzidas, 14 a mais do que o necessário para se homologar no Grupo B do Campeonato Mundial de Rali. A marca alemã foi campeã da categoria mais temida do rali quatro vezes: em 1982 e 1984 levou o título de  construtores e em 1983 e 1984 o de pilotos (com Hannu Mikkola e Stig Blomqvist).

Nos ralis, versão S1 do Quattro Sport chegava a 550 cv (Imagem: divulgação)

Em 1991, após 11.452 unidades produzidas, o Quattro foi descontinuado.

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.