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Mora nos Clássicos

Sai preta, entra “cinza”: colecionadores desaprovam a Placa Mercosul

UOL Carros

01/02/2020 04h00

(SÃO PAULO) – Criado em 2014, o padrão Mercosul polemizou, mudou, irritou e atrasou. Mas, enfim, passa a valer em todo o território nacional.

(Imagem: divulgação)

Além de ser uma padronização entre os quatro países fundadores do bloco – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai –, a PIV (Placa de Identificação Veicular) é também a saída para uma eventual escassez de combinações, fruto do aumento da frota.

"Nunca se entendeu muito bem como se criou aqui, décadas atrás, combinação de três letras e quatro dígitos. Afinal são apenas 10 dígitos e 26 letras (incluídas K, W e Y). Se houvesse a lógica combinação de quatro letras e três dígitos, como é agora e em vários países, o problema não aconteceria pois permite 450 milhões de combinações", reflete o jornalista Fernando Calmon, da coluna Alta Roda.

Editada em 26 de junho de 2019 pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran), a Resolução nº 780 diz o seguinte a respeito das novas placas:

CAPÍTULO V

Disposições finais

Art. 21. A PIV de que trata esta Resolução deverá ser implementada pelos DETRAN até o dia 31 de janeiro de 2020, sendo exigida nos casos de primeiro emplacamento do veículo. 

  • 1º Também se exigirá a nova PIV para os veículos em circulação, nos seguintes casos:

 I – substituição de qualquer das placas em decorrência de mudança de categoria do veículo ou furto, extravio, roubo ou dano da referida placa;

II – mudança de município ou de Unidade Federativa; ou

III – em que haja necessidade de instalação da segunda placa traseira de que trata o art. 4º.

É bom lembrar que a PIV não mexe em nenhum dos benefícios garantidos pelo certificado de originalidade, o documento que leva à famigerada placa preta. "A placa preta surgiu para que automóveis de coleção tivessem suas caraterísticas originais preservadas e pudessem continuar rodando, sem punições a seus proprietários. Então, deixou de ser imperativo que se instalassem, por exemplo, cintos de três pontos ou retrovisores do lado direito em carros que originalmente não os tivessem. Muitos recursos em prol da segurança e da redução de poluentes são incompatíveis com veículos mais antigos, sendo praticamente impossível atualizá-los. O Certificado de Originalidade, que leva à placa preta, protegeu os veículos dessas alterações, que acabariam com sua originalidade e seu valor histórico", explica Fábio Pagotto, diretor técnico da Federação Brasileira de Veículos Antigos.

Reside no visual a principal polêmica quando trata-se da placa para veículos de coleção, que deixará de ter letras cinzas sobre fundo preto para adotar fundo branco com letras prateadas:

(Imagem: divulgação)

"Talvez a mais sentida pelos colecionadores foi a mudança de cores nas placas e esse é um dos itens que, embora a FBVA tenha redigido ofício endereçado ao Diretor-Geral do Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), além de várias outras conversas, formais e informais, foi impossível modificar até o momento, por fugir do padrão adotado de manutenção de cor do fundo e alteração das letras, inspirado no modelo europeu. Vale lembrar que apesar de ter sua cor modificada, a categoria Veículo de Coleção não sofreu nenhuma alteração em suas prerrogativas legais", reconhece e explica a entidade em uma página do seu site, que também oferece um bom esclarecimento sobre qual a função da placa preta.

Mesmo assim, decepção e frustração dominam os colecionadores.

"O fato de ter conseguido a diferenciação dos carros por meio das placas pretas não deveria ser mudado, pois nas placas Mercosul a diferença é quase imperceptível", defende Roque Gonçale, presidente do Chevrolet Clube do Brasil de Carros Antigos.

"Entendo que as placas Mercosul são necessárias em razão do limite de combinações alfanuméricas, que estão próximas do limite. Porém a cor dos dígitos é muito apagada e não distingue, como deveria, o carro de coleção", justifica o colecionador Noel Agápito. 

"Há um desconforto por ser confundível (o novo padrão) com as outras. Sabemos que o antigomobilista é vaidoso, e assim vai-se embora o glamour que a placa preta trazia", também lamenta Pedro Bergaro.

Christian Godinho, presidente do Ronco Automóvel Club de Piedade, avisa que "muitos antigomobilistas que pretendiam conquistar através da originalidade de seus veículos antigos a honra de ter um exemplar de coleção podem ficar com receio e desistir, pois muitos também querem a placa preta pelo estilo memorável". Uma pesquisa interna no seu clube revelou que alguns colecionadores não veem mais vantagem no certificado de originalidade, pois vão ter o gasto com a filiação a um clube em troca de uma placa idêntica às demais.

Autor de um livro sobre o Ford Galaxie e diretor do documentário Nutz, Dino Dragone é uma das poucas vozes dissonantes: "vocês querem poder rodar com seus carros antigos tranquilamente ou pendurar um símbolo para a vaidade de vocês?". 

Fundo preto pode voltar

Desde o ano passado a FBVA tem uma cadeira na Câmara Temática de Assuntos Veiculares do CONTRAN, o que intensifica a representatividade do antigomobilismo diante das autoridades de trânsito nacional. Um dos apelos da entidade se refere ao tamanho das novas placas. "Uma conquista foi a manutenção da possibilidade de redução de até 15% da placa para se adaptar a diferentes veículos. Contudo, a FBVA ainda pleiteia uma redução ainda maior que se adapte ao padrão americano, para atender a um número maior de veículos de coleção", explica. 

Outro pleito pretende retomar o fundo preto, então associado ao padrão Mercosul. Uma montagem que circula no mundo virtual dá noção de como poderia ficar: 

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.