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Mora nos Clássicos

Pilotar ou navegar: o que diverte mais em um rali de regularidade?

Rodrigo Mora

26/05/2019 08h00

(SÃO PAULO) – Navegar num rali de regularidade não é tão chato quanto pensei. Foi, afinal, a melhor proposta que recebi para estar na segunda edição da Copa Paulista de Rallye Histórico: ser o co-piloto num Porsche 356 fabricado em 1952.

Marx e eu nos preparando pra chegarmos em 18o (Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

A aventura começa na noite anterior, com uma apresentação sobre o trajeto, as regras e a navegação, que pode ser feita de dois modos: por um aplicativo com tudo mastigado ou por uma boa e velha folha de papel cheia de números marcando tempo e quilometragem, além de símbolos – as tais tulipas. 

Recorrer a algo tão moderno dentro de um carro tão antigo me pareceu demais "Nutella", como dizem, e portanto fomos de papel.

(Imagem: Copa Paulista de Rallye de Histórico/Divulgação)

Do Pateo do Collegio, no centro histórico de São Paulo, a saída teve ares ainda mais nostálgico do que se espera numa corrida dessas. Não apenas pelo carros antigos, mas também pela arquitetura típica da região, que resiste ao tempo. 

Enfim, largamos (Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

Fomos o terceiro carro a largar, rumo ao Guarujá, no litoral. Até o primeiro ponto de aferição, a conversa com o Maurício Marx, ao volante do seu 356, flui sobre vários assuntos, menos a prova. Mas cá com meus botões estou tentando sacar o quanto ele está afim de vencer o rali – o que dificilmente acontecia na minha estreia como navegador.

Mais espartano o Veio Zuza, como o íntimos se referem ao tal 356, não poderia ser. Nem quando nasceu – em 7 de março de 1952, originalmente na cor "Fashion Grey" e apenas com um rádio de opcional – estava tão pelado: faltam-lhe todo tipo de acabamento e tapeçaria.

Mas não interessa – é um 356 pré-A, oras, um dos mais antigos no Brasil. E nada como, de cabelos ao vento, escutar de perto o ronquinho do quatro-cilindros boxer. 

Rali teve de Chevette…(Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

O primeiro ponto de aferição enfim chega. "Zere seu odômetro". Está valendo. Até parece fácil, bastando dizer ao piloto para qual direção em ir, dali a quantos metros. Já na prática…Porque o navegador faz tudo: olha planilha, a pista, e ainda precisa ter certeza de que o piloto assimilou as informações. E nem sempre o cenário é exatamente o que diz a planilha. Tá cheio de pegadinha.

…a DeLorean DMC-12 (Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

O principal desafio é manter a velocidade média, o que só conseguimos ao recorrer ao tal aplicativo. E assim fomos indo, eu cantando "mantenha-se à direita, siga em frente, baixa pra 52 km/h, vira à esquerda depois do semáforo, após a lombada a velocidade baixa para 34 km/h" e o Marx de olho no GPS para manter a velocidade indicada.

"Essa é a velocidade média, entendeu?" (Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

Consenso entre a maioria dos participantes foi que esta segunda etapa teve nível técnico elevado. Na descida da serra, praticamente não tirei os olhos da planilha – a sequência de informações foi intensa.

(Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

O pior é que você acha que está indo bem, fazendo tudo certo. Se o carro 16 nos ultrapassou ou o 12 está bem atrás de nós, o erro foi deles, não nosso.

Na chegada à marina do Guarujá, a sensação de missão cumprida se contrapõe à expectativa pelo resultado. Vai dar pódio? Enquanto a apuração não sai, vamos admirando os 70 carros lado a lado. Porsches da década de 1970 dominaram, mas um Ford Mustang Boss de competição chamou muita atenção – assim como um DeLorean DMC-12 (que ao vivo parece um brinquedo da Estrela do anos 1980 em tamanho gigante). 

(Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico/Divulgação)

O resultado, enfim, sai: 5o na categoria e na 18geral. Como assim? Fizemos tudo certo! Bom, na próxima a gente tenta melhorar. Valeu pela experiência de navegar, que até foi legal. 

Mas ainda prefiro pilotar. 

Com vocês, os vencedores (Imagem: Copa Paulista de Rallye Histórico)

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.