Topo

Mora nos Clássicos

Museu da Porsche completa 10 anos; veja como é a rotina dos guias de lá

Rodrigo Mora

31/01/2019 14h28

(STUTTGART) – Não tente bancar o sabichão com Yoshiko Murielle, guia do Porsche Museum, em Stuttgart. Ok, você sabe qual dos Ferdinand Porsche é pai do que, sabe de cor as vitórias da marca nas 24 Horas de Le Mans e tem um pôster de todas as gerações do 911 na sala. Mas, nem tente: ela e seus colegas são treinados para não deixar nada escapar.

"Os guias precisam cumprir certos requisitos, como um entendimento técnico e histórico exclusivo. Muitos visitantes têm um alto grau de conhecimento e suas perguntas muitas vezes entram em detalhes. Por isso os guias são muito bem versados ​​e competentes para responder até mesmo as perguntas mais específicas. Outras qualidades importantes são habilidades de comunicação, bem como a capacidade de fornecer informações a crianças e adolescentes", define Denis Sancanin, coordenador de visitas ao museu e às fábricas da montadora alemã.

Yoshiko Murielle, guia do Porsche Museum (Imagem: Rodrigo Mora)

Segundo ele, alguns são engenheiros mecânicos, outros estudaram história da arte e há os que vieram da comunicação. A maioria tem entre 25 e 35 anos. "Todos nós temos uma coisa em comum: a paixão pela marca. É o que trouxe a maioria até aqui, seja por acaso ou intencionalmente", explica Sancanin.

A manhã na vida de um guia começa com um briefing, já que são aproximadamente dois ou três passeios por dia no museu e nas fábricas. Eles são treinados para se adaptar aos interesses e focos dos convidados, mas são livres pra desenvolverem um estilo próprio para divulgarem as informações e conduzirem as visitas. A duração do período de aprendizagem é de aproximadamente seis meses. Ao longo do tempo, também participam de treinamentos sobre tópicos atuais e históricos.

Um desses temas foi a recente comemoração dos 70 anos da Porsche, fundada como a conhecemos em 8 de junho de 1948. Foi quando o 356 número 1 era oficialmente registrado pelo departamento de trânsito austríaco – e é por ele que Murielle começa nosso tour pelo museu.

Durante a comemoração pelos 70 anos, tour começa com o 356 número 1, de 1948 (Imagem: Rodrigo Mora)

"Ao deixar um galpão em Gmünd, na Áustria, país que serviu de refúgio para a família Porsche durante o final ainda violento da Segunda Guerra Mundial, o primeiro carro feito pela marca segue então para a garagem de um cliente suíço. Depois de passar pelas mãos de diversos proprietários, o carro volta para a Porsche em 1958", explica nossa guia, que nos pergunta se teremos apenas uma hora com ela. Respondemos que não, temos o dia todo, e então ela desanda a falar, mais relaxada.

Deixamos aquele 356 prata com interior vermelho para trás e nos encontramos com dois exemplares do modelo que vieram na sequência. Um deles é "Ferdinand", como ficou conhecido o carro que funcionários da empresa deram a Ferdinand Porsche pelos seus 75 anos, em 1950. Devo dizer que Murielle fala dessa passagem histórica com um quê de alegria, orgulho até, como se de alguma forma tivesse feito parte de algo tão distante.

"Ferdinand" foi presente pelos 75 anos do fundador da marca (Imagem: Rodrigo Mora)

Depois vêm os primeiros carros de corrida e a indelével união com as 24 Horas de Le Mans – contada ao visitante por meio de lendas como o 917/20 "Pink Pig" (1971), o 917 KH e o 962 C com a icônica pintura da Rothmans, vencedor da edição de 1987 da corrida mais longa do planeta.

Quando fala do desengonçado protótipo do 911 que, felizmente, foi mudado de última hora e deu no cupê apresentado em 1963, não há qualquer rastro de soberba nas suas palavras. Apenas está feliz em ter compartilhado aquela história.

Bateu na trave o 911 ter saído assim (Imagem: Rodrigo Mora)

O fim do passeio acaba justamente no começo de tudo. Murielle volta para 3 de setembro de 1875, dia do nascimento de Ferdinand Porsche. A guia conta sobre os primeiros experimentos do novato engenheiro com eletricidade até ser contratado pela Béla Egger, de onde pula, em 1897, para a fabricante de carruagens Jacob Lohner. É de lá que nasce seu primeiro grande projeto, em 1898: o Egger-Lohner C2 Phaeton, equipado com um motor elétrico que produzia 3 cv e o levava aos 25 km/h de velocidade máxima.

Tão fascinante quanto é o Mercedes-Benz Museum, também em Stuttgart, que para celebrar os 10 anos do museu da concorrente, completados hoje, receberá gratuitamente até o próximo dia 10 todos os funcionários da Porsche.

(Viagem a convite da Porsche)

Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.