Carro é arte?

(SÃO PAULO) – Escultores, pintores, escritores, músicos e cineastas que me perdoem, mas a mais fantástica obra de arte do mundo é o carro. Não apenas por ser o "ideal de beleza e harmonia e expressão da subjetividade humana" – como define o dicionário Houaiss sobre o que é arte –, mas por ser uma espécie de reunião de expressões artísticas.

O desenho externo é a arte mais evidente. O interno – que inclusive é feito por outro designer (e o que é um designer, senão um artista?) – é outra. Há dezenas de prêmios distintos para os dois "departamentos", inclusive. Daí vem a arte da engenharia, que faz centenas de peças funcionarem em harmonia. Ou seja, três artes que formam uma maior. Sem falar na tecnologia das centras multimídia…

Há também questões práticas: essa obra de arte sobre quatro rodas te leva a lugares que discos ou esculturas não levarão, ao menos no sentido literal. Desde viagens corriqueiras, como a um restaurante, àquelas que cruzam um continente ou dão a volta ao mundo.

O pessoal do Hotel Molitor, em Paris, também deve pensar assim. Inaugurado em 1929 pelos nadadores olímpicos Aileen Riggin Soule e Johnny "Tarzan" Weissmuller, era o lugar para ver e ser visto no verão. Foi lá que, em 1946, Micheline Bernardini, dançarina do Casino de Paris, apresentou ao mundo o biquíni, tão ousado para a época. Em 1989, foi desativado e assim ficou até 2007, quando fora totalmente reconstruído – mantendo, contudo, a piscina original, pela qual era famoso.

Tem várias expressões de arte por lá, das paredes ao carpete. Mas a principal delas, que faz todo hóspede perder alguns minutos para admirá-la, é um Rolls-Royce Corniche 1984, autografado por vários artistas de rua, bem no meio da recepção.

(Imagem: Rodrigo Mora)