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Mora nos Clássicos

Chevrolet Opala quase ganhou versão picape; mas que fim levou o protótipo?

Rodrigo Mora

26/01/2018 04h00

Fiat e General Motors tiveram a mesma visão na década de 1970: produzir uma picape derivada de um carro de passeio, e assim oferecer um veículo de carga mais acessível, econômico e versátil. A Fiat seguiu com a ideia e lançou, em 1978, a versão com caçamba do 147, inaugurando no Brasil um segmento que nos EUA já existia há cerca de uma década.

O pioneirismo da Fiat veio, também, de um exercício de futurologia equivocado da rival: a linha 1975 do Opala deveria ampliar a gama não só com a perua Caravan, mas também com uma picape baseada no sedã. Portanto, três anos antes da Fiat.

A história não é inédita: a edição de fevereiro de 1974 da revista Quatro Rodas contava que até o nome "Opalete" já estava definido, e que a oferta de motores repetiria o 2.5 4-cilindros e o 4.1 6-canecos dos demais integrantes.

O inédito aqui são as fotos da Opalete, cedidas gentilmente pelo Miau (Museu da Imprensa Automotiva) e publicadas com exclusividade por UOL Carros. As imagens são de um protótipo aparentemente pronto. Até a plaqueta de identificação da marca já estava colado na tampa traseira.

O grande mistério: que fim levou?

O que impediu a GM de lançar a Opalete? Consultada, a empresa respondeu que não tem mais registros como os estudos de mercado que a levaram a desenvolver o protótipo e, logo depois, a desmotivaram a colocar o modelo na linha de produção.

Se pelos meios oficiais não obtivemos a resposta, UOL Carros procurou então Adalberto Bogsan, engenheiro da área de design que trabalhou na GM entre 1962 e 2001.

"Naquele momento já se falava em um substituto para o Opala, então não compensaria investir em um produto novo para linha",  rememora. Mas e a Caravan? "Ela já existia lá na Alemanha, e havia muita coisa em comum com o Opala. Já a picape demandaria muitas adaptações e ferramental distinto", esclarece.

Como se sabe, o Opala é a versão brasileira da terceira geração do Opel Rekord, lançado na Alemanha em 1967. E na tal aposentadoria ele só deu entrada em 1992.

Ainda de acordo com Bogsan, um designer da Chevrolet americana veio dos EUA para analisar o projeto. Foi dele a sugestão de inclinar a coluna B, "que daria ao carro o DNA da marca". Era claramente uma inspiração na El Camino, picape derivada do sedã Impala, de 1959, cuja fórmula se replicou nas décadas seguintes usando a base do Chevelle Malibu e do Monte Carlo.

No fim, a picape do Opala não foi longe – sequer avançou para os testes de durabilidade. Bogsan também conta que o nome "Opalete" nunca veio da GM, que a tratava simplesmente como Opala picape ou projeto V80. Ou seja… "Opalete" se tornou basicamente um apelido dado pela imprensa ao projeto.

O que aconteceu com o protótipo? Foi destruído pouco tempo depois, infelizmente. E a fabricante só entrou na briga das picapes compactas no Brasil, de fato, em 1983 com a Chevy 500, derivada do Chevette. Naquela época já existiam Ford Pampa, Volkswagen Saveiro e, claro, a desbravadora Fiat 147.

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Sobre o autor

Rodrigo não Mora apenas nos Clássicos. Em sua trajetória no jornalismo automotivo, já passou por Auto+, iG, G1, Folha de S. Paulo e A Tarde - sempre em busca do que os carros têm a dizer. Hoje, reúne todos - clássicos e novos - nas páginas das revistas Carbono UOMO e Ahead Mag e no seu Instagram, @moranoscarros.

Sobre o blog

O blog Mora nos Clássicos contará as grandes histórias sobre as pessoas e os carros do universo antigo mobilista. Nesse percurso, visitará museus, eventos e encontros de automóveis antigos - com um pouco de sorte, dirigirá alguns deles também.